República Árabe Saharaui Democrática


O POVO QUE O MUNDO ESQUECEU


O POVO QUE O MUNDO ESQUECEU


O POVO QUE O MUNDO ESQUECEU


Bem-vindos ao blog phoenixsaharaui.blogspot.com.br


A criação deste espaço democrático visa: divulgar a causa Saharaui, buscar o reconhecimento pelo Brasil da República Árabe Saharaui Democrática e pressionar a União Européia, especialmente a Espanha, a França e Portugal, mais os EUA, países diretamente beneficiados pela espoliação dos recursos naturais do povo Saharaui, para retirarem o apoio criminoso aos interesses de Mohammed VI, Rei do Marrocos, e com isto permitir que a ONU prossiga no já tardio processo de descolonização da Pátria Saharaui, última colônia na África.


Membro fundador da União Africana, a RASD é reconhecida por mais de 82 nações, sendo 27 latino-americanas.


Nas páginas que seguem, você encontrará notícias do front, artigos de opinião, relato de fatos históricos, biografias de homens do porte de Rosseau, Thoreau, Tolstoy, Emersom, Stuart Mill e outros que tiveram suas obras imortalizadas - enxergaram muito além do seu tempo - principalmente em defesa da Liberdade.


"Liberté, Égalité, Fraternité", a frase que embalou tantos sonhos em busca da Liberdade, é letra morta na terra mãe.


A valente e obstinada resistência do povo Saharaui, com certeza encontraria em Jean Molin - Herói da resistência francesa - um soldado pronto para lutar contra a opressão e, em busca da Liberdade, morrer por sua Pátria.


A Literatura, a Música, a Pintura e o Teatro Saharaui estarão presentes diariamente nestas páginas, pois retratam fielmente o dia-a-dia deste povo, que a despeito de todas as adversidades, em meio a luta, manteve vivas suas tradições.


Diante do exposto, rogamos que o nosso presidente se afaste da posição de neutralidade, mas que na verdade favorece os interesses das grandes potências, e, em respeito a autodeterminação dos povos estampada como preceito constitucional, reconheça, ainda em seu governo, a República Árabe Saharaui Democrática - RASD.


Este que vos fala não tem nenhum compromisso com o erro.


Se você constatar alguma imprecisão de datas, locais, fatos, nomes ou grafia, gentileza comunicar para imediata correção.


Contamos com você!


Marco Erlandi Orsi Sanches


Porto Alegre, Rio Grande do Sul/Brasil

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

TRANSPARÊNCIA INTERNACIONAL: "A CORRUPÇÃO ALIMENTA A CRISE"

Transparência Internacional: "A corrupção alimenta a crise"

"Espanha, Grécia e Portugal são casos claros de como a ineficácia, os abusos e a corrupção não estão suficientemente controlados", sublinha a organização Transparência Internacional no seu mais recente relatório.

Espanha, Grécia, Itália e Portugal padecem de uma grave carência de responsabilidade dos poderes públicos e revelam uma ineficácia, negligência e corrupção tão enraizadas que não é possível ignorar a relação entre a corrupção e as crises financeira e orçamental que se vive nestes países, refere a Transparência Internacional, citada pelo “El País”.

No seu mais recente relatório, intitulado “Dinheiro, política e poder: perigos da corrupção na Europa”, a organização focaliza-se na falta de transparência com que são adoptadas decisões nos países europeus.

No que diz especificamente respeito aos países do Sul da Europa, a organização diz que “a corrupção consiste, com frequência, em práticas legais mas não éticas”, fruto da opacidade nas regras que regem os grupos de pressão, o tráfico de influências ou a permeabilidade entre os sectores público e privado.
O relatório salienta ainda que o financiamento dos partidos políticos não está devidamente regulado na Europa, apesar de ser uma área de alto risco de corrupção. Além disso, os códigos de boa conduta de que se dotaram alguns parlamentos (não todos) estão cheios de falhas, refere o documento, citado pelo jornal espanhol.

Por outro lado, a Transparência Internacional afirma que quem faz a lei é também quem mais burla. Refere-se, a este título, ao negócio dos contratos públicos, já que constatou que as legislações nacionais, ainda que transponham as directivas da EU, não impedem que em muitos países essas normas sejam sistematicamente contornadas. “E isso faz-se impunemente”.

“Há demasiados governos que se furtam à sua responsabilidade na gestão das finanças públicas e dos concursos públicos”, indica o relatório, acrescentando que só dois países – Noruega e Reino Unido – protegem adequadamente de represálias quem decide denunciar presumíveis delitos ou condutas não éticas.

A TI destaca ainda o facto de a frustração popular perante a gestão pública ter levado em 2011 milhares de jovens indignados para as ruas (…), que se manifestaram contra a incompetência e a corrupção dos políticos em Espanha, Grécia, Itália e Portugal. “As administrações públicas destes países carecem de um quadro legislativo para responderem pelos seus actos”, salienta o documento citado pelo “El País”.

“Espanha, Grécia e Portugal são casos claros de como a ineficácia, os abusos e a corrupção não estão suficientemente controlados”, segundo a organização.

Assim,

“a corrupção política e empresarial na Europa, sobretudo no Mediterrâneo, podem fragilizar ainda mais as vulneráveis economias que se debatem para superar a crise do euro”,

conclui o relatório, citado pela Reuters.

domingo, 28 de outubro de 2012

HAITI - O PAÍS DOS REST AVEC VOUS

HAITI - O PAÍS DOS REST AVEC VOUS 





Premiado pela segunda vez com o 1º Lugar no prêmio Direitos Humanos de Jornalismo na sede da OAB/RS, o JORNALISTA LÚCIO DE CASTRO, que também produziu o documentário "GARTUFA" que me permitiu conhecer e abraçar a causa SAHARAUI, novamente revela ao mundo a terrível realidade que a sociedade insiste em esconder.

Falar em direitos humanos de 4ª e 5ª geração em pleno século XXI, diante deste quadro bizarro pintado com a mais alta tecnologia e côres da idade média, quando parcela importante da população mundial não consegue desfrutar dos direitos de 1ª geração, vida e liberdade, comprova que a besta humana ao longo dos séculos mudou o cenário mas não modificou o comportamento predador.

Rosseau afirma que a liberdade e a perfectibilidade, capacidade de se aperfeiçoar, e a historicidade são os traços fundamentais para distanciar o ser humano dos animais.

Será?

Que aperfeiçoamento é este que renova e aperfeiçoa práticas medievais de exploração e submissão dos seres humanos?

Que animal é este que não aprende com a história?

Pelo contrário, reincide em práticas que impõe morte, destruição e miséria aos povos subjugados.

O "homem" se mostrou capaz de mudar o exterior, enquanto permanece aprisionado internamente e incapaz de modificar o seu interior.

Luc Férri ressalta a prática da tortura como sendo exclusiva dos humanos.

Humanos??

Será esta a única diferença?


Agora, os mais invisíveis dos invisíveis....e a IRMÃ MARIA.


HAITI - O PAÍS DOS REST AVEC VOUS "fiquem com vocês"

















Fonte:http://espn.estadao.com.br/luciodecastro/post/186680_HAITI+O+PAIS+DOS+REST+AV...

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

RAPHAEL LEMKIM: ALÉM DO IMPOSSÍVEL

RAPHAEL LEMKIM: ALÉM DO IMPOSSÍVEL


UM CRIME SEM NOME


São Paulo, julho 2011
 

A IMPORTÂNCIA DA OBRA DE RAPHAEL LEMKIN PARA A ELABORAÇÃO DA CONVENÇÃO SOBRE GENOCÍDIO

Por CAMILA SOARES LIPPI

Introdução

A Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, de 1948, tem como objetivos obrigar seus Estados-partes a criminalizar o genocídio, a punir os seus autores, e a adotar sistemas de cooperação judicial para a repressão desse crime (CASSESE, 2008, p. 127-128).

Segundo esse tratado, seja o crime cometido em tempos de paz ou de guerra, o indivíduo que o cometeu deve ser julgado e punido. O tratado atualmente faz parte do direito consuetudinário internacional (OBOTE-ODORA, 1999), ou seja, como prática geral reiterada ao longo do tempo, e aceita como sendo direito, o que a torna obrigatória inclusive para Estados que não a tenham ratificado.

O objetivo deste artigo é analisar a importância da obra de Raphael Lemkin para a elaboração deste tratado, um dos mais importantes em termos de proteção internacional dos direitos humanos.



A obra de Lemkin

A Convenção de 1948 sobre Genocídio provavelmente não existiria hoje se não fosse pelo jurista polonês Raphael Lemkin. Judeu, Lemkin perdeu vários membros de sua família, e teve de se mudar para os Estados Unidos como refugiado após a Alemanha invadir a Polônia, e lá passou a lecionar na Duke University e aprofundou seus estudos, que já havia começado a desenvolver enquanto estudante quando ainda era jovem, sobre algo ainda sem nome e cujo termo ele viria a cunhar depois: o genocídio (POWER, 2007, 14-29).

Na Conferência para a Unificação do Direito Penal de Madri, em 1933, quando trabalhava como Promotor em seu país, Lemkin apresentou à comunidade jurídica internacional os conceitos de dois novos crimes internacionais: barbárie (barbarism) e vandalismo (vandalism).

Barbárie seriam atos de extermínio dirigidos contra coletivos étnicos, religiosos ou sociais, por qualquer motivo. Dentre os elementos desse crime, estariam os seguintes: emprego de violência cruel; ação sistemática e organizada; a ação não se dirige contra pessoas determinadas, mas contra uma coletividade; a coletividade atacada está indefesa; e a intenção com que se realiza pode consistir em intimidação dessa população (LEMKIN, 1933).

Já o vandalismo seria um ataque visando uma coletividade que poderia assumir também a forma da destruição sistemática e organizada da arte e da herança cultural nas quais as características únicas daquela coletividade são reveladas. O autor do crime não estaria somente destruindo a obra, mas o símbolo da cultura de uma determinada coletividade (LEMKIN, 1933).

Porém, as idéias de Lemkin não foram acolhidas nessa Conferência de 1993. Ele enfrentou diversas dificuldades nesse sentido. Em primeiro lugar, o então Ministro das Relações Exteriores da Polônia, Joseph Beck, alinhado a Hitler, se recusou a permitir que Lemkin viajasse para Madri para defender suas idéias pessoalmente.

O trabalho de Lemkin teve que ser lido em voz alta por terceiros em sua ausência. Em segundo lugar, Lemkin não conseguiu muitos aliados que defendessem suas propostas. No período entre guerras na Europa, economicamente deteriorada devido à crise de 1929, e com Estados isolacionistas e nacionalistas.

Os Estados, no âmbito da Liga das Nações, falavam em "segurança coletiva", mas nesse conceito, não consideravam que estava incluída a segurança dentro do Estado. Os juristas presentes argumentavam que era algo que não acontecia com freqüência, não merecendo ser tipificado.

Os representantes alemães chegaram a se levantar em protesto à sua apresentação. Os conceitos expostos por ele haviam sido fortemente influenciados pelo massacre de armênios perpetrado pelos turcos, e pelo assassinato de judeus na Polônia em pogroms.

Então, em seu país natal, ele foi acusado de tentar melhorar a situação dos judeus na Polônia com sua proposta. O Ministro das Relações Exteriores do país o culpou por ter insultado os aliados alemães. Assim, logo após a Conferência, o governo anti-semita polonês o demitiu do cargo de promotor público adjunto, pois Lemkin se recusava a refrear as críticas que fazia em relação a Hitler (PEREIRA JÚNIOR, 2010, p. 78; POWER, 2007, p. 22).

Um discurso proferido por Churchill em 1941 teria ressoado em Lemkin, quando este já se encontrava refugiado nos Estados Unidos, de modo a levá-lo a procurar uma nova palavra, na qual pudesse aperfeiçoar os conceitos que havia apresentado em Madri, além de agrupar todos os aspectos da proteção do grupo vitimado, bem como as atuações sistemáticas que os atingiriam, tomando como exemplo aquelas perpetradas pelos nazistas com fim de extermínio em massa (PEREIRA JÚNIOR, 2010, p. 79).


"We are in the presence of a crime without a name" (CHURCHIL, 1941).

Assim, diante da impossibilidade de encontrar um termo mais preciso, Lemkin cunhou o termo "genocídio", em obra seminal de 1944, denominada Axis Rule in Occupied Europe. Isso ocorreu no final da Segunda Guerra Mundial, quando o mundo se encontrava chocado perante os acontecimentos na Alemanha nazista.

Lemkin criou uma palavra que tinha o prefixo grego genos (que significa raça, ou tribo) com o sufixo de origem latina cídio (em inglês, cide), que deriva do vocábulo latino caedere, que significa matar.

Ele caracterizou o delito de genocídio como uma velha prática que estava em sua etapa de desenvolvimento moderno, constituída por um plano coordenado que busca a destruição das bases fundamentais da vida dos grupos atacados, destruição essa que implica usualmente a desintegração das instituições políticas e sociais, da cultura do povo, de sua linguagem, de sua religião.

A destruição do grupo seria o objetivo principal desse crime. Os atos seriam sempre direcionados aos grupos, e aos indivíduos que são selecionados por fazerem parte desses grupos (LEMKIN, 1944).

...

Fonte: Anais do XXVI Simpósio Nacional de História – ANPUH • São Paulo, julho 2011

Recomendo a leitura integral do texto que é acessado através do link:

http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1313028193_ARQUIVO_AimportanciadaobradeRaphaelLemkinparaaelaboracaodaConvencaosobreGenocidio.pdf

Ainda...
A Convenção estabeleceu o "genocídio" como crime de caráter internacional, e as nações signatárias da mesma comprometeram-se a "efetivar ações para evitá-lo e puní-lo", definindo-o assim:

Por genocídio entende-se quaisquer dos atos abaixo relacionados, cometidos com a intenção de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial, ou religioso, tais como:

(a) Assassinato de membros do grupo;

(b) Causar danos à integridade física ou mental de membros do grupo;

(c) Impor deliberadamente ao grupo condições de vida que possam causar sua destruição física total ou parcial;

(d) Impor medidas que impeçam a reprodução física dos membros do grupo;

(e) Transferir à força crianças de um grupo para outro.

Do texto, extraímos a informação da resistência oferecida pelos aliados para ratificar as propostas de Lemkim, especialmente da França, sempre a França, e dos Estados Unidos, cuja adesão, com ressalvas, ocorreu somente após 40 anos.

No dia 5 de novembro de 1988, o presidente norte-americano Ronald Reagan - representando os "guardiões da democracia" - aderiu à Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio.

A assinatura dos termos da Convenção enfrentou muitos adversários internos fortes, os quais acreditavam que aquele documento infringiria a soberania dos Estados Unidos e seus Aliados. Um dos mais ferrenhos defensores da Convenção, o senador William Proxmire, do estado de Winsconsin, fez mais de 3.000 discursos no Congresso, de 1968 a 1987, defendendo a Convenção.


MOHAMED VI E SEUS COMPARSAS QUE SE CUIDEM!!!

ESTADOS UNIDOS E FRANÇA NÃO HESITAM EM TRANSFERIR RESPONSABILIDADES PARA SEUS VASSALOS TRAVESTIDOS DE SANGUINÁRIOS DITADORES...E DEPOIS, SUA FUGA ATÉ O BURACO MAIS PRÓXIMO SERÁ TRANSMITIDA AO VIVO NAS REDES DE TELEVISÃO  PARA O MUNDO TODO.

au revoir petit roi...


Sobre Raphael Lemkin (24 de junho de 190028 de agosto de 1959) 

Lemkin nasceu Rafał Lemkin no vilarejo de Bezwodne na Rússia Imperial, agora em Vilkaviškis districto da Lituânia. Não se sabe muito sobre a infância de Lemkin. Ele cresceu numa família polaco-judia e era um dos três filhos nascido de Joseph e Bella (Pomerantz) Lemkin. Seu pai era um fazendeiro e sua mãe era uma intelectual: pintora, linguista e estudante de filosofia com uma larga coleção de livros de literatura e história. Com sua mãe como influência, Lemkin se tornou perito em nove línguas com 14 anos de idade, incluindo francês, espanhol, hebraico, Ídiche e Russo.
Depois de graduado numa escola local de Białystok, ele começou o estudo de linguística na Universidade John Casimir em Lwów. Era lá que Lenkin começou a se interessar no conceito de crime, o qual mais tarde envolveria a introdução da idéia de genocídio, baseado em grande parte na experiência dos Assírios[1] massacrados no Iraque durante 1933 e no Genocídio Armênio durante a Primeira Guerra Mundial. Lemkin se transferiu para a Universidade de Heidelberg na Alemanha para estudar filosofia, e retornou para Lwów para estudar Direito em 1926, transformando-se em um preceptor em Warsaw na graduação.

Fonte: Wikipédia

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

"O DIA QUE DUROU 21 ANOS"

DITADURA NO BRASIL - O DIA QUE DUROU 21 ANOS











Fonte: Documentário "O Dia que Durou 21 anos"que apresenta os bastidores da participação do governo dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 que durou até 1985 e instaurou a ditadura no Brasil. Uma coprodução da TV Brasil com a Pequi Filmes, com direção de Camilo Tavares.

La Cárcel Negra de El Aaiún


LA  CÁRCEL NEGRA DE EL AAIÚN






Fonte: aapsocidental.blogspot.com.br


sexta-feira, 19 de outubro de 2012

AO GRANDE MESTRE

AO

GRANDE MESTRE,

PROFESSOR LAURINDO JOSÉ ALGERI.


Iniciei meus estudos na década de 60, na Casa do Pequeno Operário – Colégio Dom Bosco – cujo prédio ainda em fase de acabamento, sem reboco, foi construído com a verba Salesiana e o apoio braçal e material da comunidade.

Dirigia a respeitável Instituição o Pe. Victor Vicenzi, sob o olhar atento do Pe. Máxime.

Foi quando conheci o Professor Laurindo, egresso da excepcional escola LA SALLE.

Figura de estatura baixa, simpático, educado, de inteligência superior, carismático, magrinho de bigode, muito parecido fisicamente com o Presidente Janio Quadros, popular na época mais pela vassoura do que por alguma realização.

Estudava à tarde.

Como aluno, ansiava pelo início da aula, pois o mestre, sabiamente, abria os trabalhos contando uma história. E assim, a leitura da Bíblia prendia a atenção dos irriquietos alunos - naquela época a Instituição era constituída somente de meninos - que aguardavam com ansiedade o próximo capítulo, reservado ao dia seguinte.

O jovem mestre ministrava todas as matérias com invejável maestria e dedicação, frente a uma turma composta de mais ou menos 60 arteiros. A carga suficientemente pesada para qualquer ser humano era suportada com alegria e idealismo por aquele que viria a ser respeitado como grande mestre.

Nesta época, uma pesquisa informal apontou que em torno de 80% dos alunos eram filhos de casais separados, de famílias onde predominava a ausência do pai. Resultado este que revelava a minha situação.

Diante deste quadro, possível avaliar a responsabilidade do mestre que incorporava vários papéis: Sempre educador, ora pai, ora tio, ora irmão, sem nunca se afastar da condição de amigo.

Passados os anos, o jovem que chegara para iniciar sua carreira de EDUCADOR na tradicional Instituição, já reconhecido como um homem de cultura excepcional e íntegro, tornou-se respeitado e admirado por toda a comunidade.

Sempre preocupado e empenhado com o aprendizado escolar e a formação do caráter de seus pupilos, dele guardo as melhores recordações. A modéstia o acompanhava. Sempre disponível, de forma cordial e educada, a todos atendia com igual atenção.

Com o Professor LAURINDO aprendi a REGRA DE OURO, ou seja, a REGRA DE TRÊS, assim:

1. Quando chegares a algum lugar, diga bom dia, boa tarde ou boa noite;
2. Quando te dirigires a alguém, diga por gentileza ou por favor;
3. Quando sair te despeça agradecendo com um muito obrigado, mesmo que a pessoa que te atendeu tenha dito NÃO.

Não lembro o time para o qual torcia. Na falta de melhor memória, concluo que torcia pelos seus alunos e vestia a camiseta da Instituição que ajudou a engrandecer.

O primário, do primeiro ao quinto ano, teve a sua marca registrada. Seus alunos dominavam o conteúdo, respeitavam seu mestre e tinham liberdade para expor suas ideias.

Mas, no caminho tinha uma pedra chamada exame de admissão, ponte indispensável para chegarmos ao ginasial. Não foi fácil, mas o mestre orientou os seus, que, preparados, venceram a etapa assustadora na época.

A satisfação de avançar contrastava com a tristeza de dizer adeus ao amigo. O prosseguimento dos estudos fatalmente reduziu o tempo de convivência e determinou o distanciamento com o mestre, que seguiu ministrando aulas aos felizardos alunos do primário.

Quando penso nesse período, recordo que há que defenda que os anos iniciais de aprendizado escolar deveriam ser destinados aos mestres mais capacitados, com graduação superior, aos doutos.

Em tese é pertinente, porém, a vocação ainda é fundamental. Os títulos enfeitam paredes, lustram medalhas, acumulam troféus, mas, o amor ao ofício de mestre, a renúncia pessoal, a dedicação, o aperfeiçoamento permanente, a alegria e a responsabilidade de ensinar, são requisitos indispensáveis para quem almeja ser um dia um EDUCADOR.

Muitos anos se passaram...

Como jogava futebol no campo ao lado da escola, tive algumas oportunidades de reencontrá-lo ao domingos, quando ele participava de algum evento patrocinado pela paróquia.

Ali a figura do mestre se transformava no churrasqueiro. De olho na brasa, perguntava pela nossa família, como estavam os meus irmãos e o prosseguimento dos estudos.

Eu, que havia interrompido os estudos no 3ª Científico no Colégio Dom João Becker, envergonhado por não corresponder as expectativas do mestre, falava do crescimento profissional e aproveitava para apresentar a prole.

Nestes poucos contatos, soube que o mestre agora assumira exclusivamente a secretaria da escola, não ministrava mais aulas.

Foi nesta condição que nos reencontramos quando retornei aos estudos. O Pe. José Hess, outro grande mestre de quem falarei em outra oportunidade, casualmente me encontrou na Avenida Assis Brasil, próximo da escola, e perguntou-me se já estava formado no curso superior.

Furtivamente, iniciei a resposta explicando que tinha constituído família, que interrompera os estudos e que a volta encontrava óbice na mudança do ensino.

O padre Zé, como era carinhosamente chamado, não deixou por menos: “vais voltar aos estudos este ano no Dom Bosco, pois implantamos à noite o curso de Contabilidade.”

Reticente, questionei sobre a documentação. Resposta do determinado educador:

"A documentação do Becker é tua responsabilidade. Os documentos para reingresso em nossa escola, deixa com o Laurindo que te conhece desde guri.”

E assim foi feito. No início do ano escolar, no primeiro dia, o Professor Laurindo e o Pe. Zé, assim como faz o Pe. Marcos Sandrini hoje, a todos recepcionavam na chegada às aulas.

Neste dia, fui recebido com um afetuoso abraço e com as palavras mágicas:

“Seja bem-vindo meu filho.”

Ao final daquele ano me formei em Contabilidade, assumi a gerência da empresa em que trabalhava, fiz vestibular e ingressei no curso de Direito da Unisinos.

A partir de então perdi o contato com o Professor Laurindo.

Certo dia, retornava para a casa onde morava à época, na zona norte de Porto Alegre, num ônibus Leopoldina lotado, em pé, quando chamaram minha atenção com uma batida em meu ombro.

Ao meu lado, apertadito, o grande mestre Professor Laurindo. Sorridente, sem manifestar nenhum incomodo com o espaço que nos fora destinado, perguntou pela minha família e pelos meus irmãos.

Quando falei que o meu filho Rafael era um bom aluno, perguntou-me: “Ele sabe a tabuada de cor? Contar nos dedos não é saber a tabuada. O pai dele sabia de cor.”

Rimos muito ....

Apesar do trânsito pesado e a distância à ser percorrida, a conversa fluiu como se estivéssemos numa sala com ar condicionado, poltronas confortáveis e onde o tempo não existia.

Fiquei sabendo que o mestre era meu vizinho a muitos anos e morava próximo da minha casa com sua esposa, querida amiga de minha mãe e que também me viu crescer.

Como sua morada situava-se antes de minha casa, convidei-o para tomar um café com minha família que me aguardava. Queria apresentar-lhe a Cintia e a Letícia, que ainda não conhecia.

A minha esposa Nilza, quando viu o grande mestre, aquela altura na faixa dos 70 anos (nunca soube a idade do mestre), correu para oferecer o que tínhamos de melhor, além do nosso respeito e admiração por aquela figura que pela primeira vez entrava em nosso lar.

Descobri ali como uma sala é pequena para acomodar um gigante, mas ele, como sempre, não reclamou.

Foram momentos inesquecíveis. Lembramos de todos os meninos que percorreram a mesma estrada, dos mestres, compartilhamos informações sobre um e outro, falamos do passado e do futuro, e foi quando, ao se despedir, disse:

“Meu filho, a fortuna não traz a luz nem reduz a escuridão, somente a educação tem este poder”, e continuou...

“Uma vez que você tem a possibilidade de ter acesso à educação, num país onde a maioria não tem, é teu dever lutar pela redução das desigualdades sociais para que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades. A educação recebida, não é um troféu para ser guardado na cristaleira. Antes de tudo, a educação é o único instrumento capaz de garantir a liberdade e a igualdade social”

Modestamente, lembrei-lhe que para repetir o brado francês faltava a fraternidade, ao que ele respondeu:

“Fraternidade, meu filho, nasce, vive e morre no coração de cada um de nós.”

Dois meses depois, ao comentar com um amigo o encontro com o mestre, soube que ele estava muito doente.

Com brevidade fui a sua casa. Chegando lá, encontrei o mestre com a mesma disposição de sempre.

Tomamos café servido por sua esposa, conversamos longamente e nada de surgir o assunto da doença.

Como já passava da hora, me despedi e fui acompanhado pelo mestre até a frente do prédio. Ali, peguei coragem para perguntar pelo seu estado de saúde.

Respondeu com as seguintes palavras:

“Meu filho, estou com um probleminha aqui, apontando para a região da garganta. Parece que é um câncer. Os médicos querem operar mas eu não quero. Estou tomando uns chazinhos e já me sinto melhor.”

O senhor está precisando de alguma coisa? Perguntei. “Não, está tudo bem, não está me faltando nada” respondeu.

E acrescentou:

“Marquinho, eu sou um homem muito feliz. Deus me deu a oportunidade de educar milhares de jovens. De aprender com vocês. De compartilhar de suas alegrias e tristezas. A tua presença aqui neste momento é uma prova. É como se todos os alunos que passaram pelas minhas aulas estivessem aqui neste momento. Muito obrigado”

Não se passaram dois meses e fui informado de seu enterro, onde compareci com meu filho Rafael para prestar as últimas homenagens ao grande mestre.

Somente a educação não basta para pormos fim a corrupção que não tem cara e não tem nome, mas para identificá-la basta sentir o cheiro de podre, seguir o rastro de sangue e contar o número de vítimas que resultam desta prática que está destruindo nosso País.

Estes corruptos que, ao espoliarem o erário público, condenam a grande maioria dos brasileiros a miséria física e intelectual, sendo responsáveis por esta brutal desigualdade social, num País que tem todas as condições de responder plenamente as demandas de seu povo.

É preciso INDIGNAÇÃO E ATITUDE!!

Na pessoa do saudoso PROFESSOR LAURINDO JOSÉ ALGERI, minha singela homenagem a todos os brasileiros que se dedicam a arte de educar e detém este poder.

Parabéns PROFESSORES!!

Respeitosamente,

sábado, 13 de outubro de 2012

“CONDIÇÕES IDEAIS PARA O AMOR”

CONDIÇÕES IDEAIS PARA O AMOR


"A cultura deve extravasar os círculos limitados do deleite ou realização pessoal para assumir o papel de agente dinâmico na transformação da sociedade."

Luís Eurico Tejera Lisboa

Militante da AÇÃO LIBERTADORA NACIONAL (ALN). Nasceu em Porto União (SC), filho de Eurico Siqueira Lisbôa e Clélia Tejera Lisbôa, o mais velho dentre sete irmãos.

Cedo iniciou sua militância política na Juventude Estudantil Católica. Integrando-se ao PCB, alternava suas atividades entre Santa Maria, onde residia na JUC, e Porto Alegre. Pertenceu à Direção Estadual do PCB até o do VI Congresso, quando passou a integrar a Dissidência/RS.

Estudava, então, no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, centro da efervescência do movimento estudantil secundarista. No Júlio de Castilhos, haviam fechado o Grêmio Estudantil, em meio à intensa agitação provocada pela tentativa da direção de cobrar uma taxa e, ao mesmo tempo, a proibição do uso de mini-saias e cabelos compridos.

O Grêmio foi instalado em uma barraca, em frente à escola, concentrando os alunos em assembléias permanentes e de onde saiam freqüentes passeatas que se uniam aos universitários nos protestos contra o acordo MEC-USAID, pelo ensino gratuito, reunindo as forças que protestavam contra a ditadura militar. Luiz Eurico e os integrantes do Grêmio fechado acabaram sendo expulsos do Colégio. Passou a ser membro da Diretoria da União Gaúcha dos Estudantes Secundários.

Ao mesmo tempo, a radicalização da ditadura passou a exigir novos posicionamentos. Luiz Eurico questiona a Dissidência para a concretização de ações armadas, ligando-se à VAR-PALMARES. Permanece na VAR como membro de sua Direção Regional até a realização do Congresso da Organização, em 1969, quando integra a ALN.

Nesse período, foi preso algumas vezes durante manifestações estudantis. Ao tentar, junto aos alunos do Júlio de Castilhos, como membro da UGES, a reabertura do Grêmio fechado, foi mais uma vez preso e indiciado em IPM.

Já casado, trabalhando como escriturário no Serviço Nacional de Indústrias – SENAI – parecia ter encontrado seu caminho.

Fora, inclusive, absolvido por unanimidade no IPM, comparecendo à Auditoria Militar no dia do julgamento. No final de outubro de 1969, foi surpreendido por uma notícia de jornal com sua condenação a seis meses de prisão no referido processo, após grosseira falsificação dos prazos de recurso. Não lhe restou outra alternativa: passou à clandestinidade.

Esteve algum tempo em Cuba, retornando ao País em 1971, estabelecendo-se em Porto Alegre, na tentativa de reorganizar a ALN no Estado. Foi preso em circunstâncias desconhecidas em São Paulo, na primeira semana de setembro de 1972 e desaparecido desde então.

Somente em junho de 1979, a Comissão de Familiares do CBA, consegue reunir pistas para a elucidação dos desaparecimentos, localizando Luiz Eurico enterrado, sob o nome de Nelson Bueno, no Cemitério Dom Bosco, em Perus.

Ao mesmo tempo em que a ditadura pretendia sepultar a luta pelos desaparecidos entregando aos familiares um atestado de morte presumida através da Anistia, apresentava-se à Nação um atestado de óbito de um dos desaparecidos, cuja prisão e assassinato tinham ocultado.

A versão oficial para sua morte era de suicídio e, para corroborá-la, foi inclusive montado Inquérito na 5ª DP de São Paulo, sob o número 582/72.

A farsa do suicídio é desmascarada pelos depoimentos contraditórios das testemunhas arroladas, bem como pela própria conclusão do inquérito: Luiz Eurico, deitado na cama do quarto da pensão em que morava, teria disparado alguns tiros a esmo antes de embrulhar uma de suas armas (as fotos mostram um revólver em cada mão) na colcha que o cobria e disparar um tiro em sua própria cabeça, no dia 3 de setembro de 1972.

Pelo quarto havia marcas de disparos diversos, inclusive em direção ao próprio Luís Eurico. Em processo aberto na 1ª Vara de Registros Públicos de São Paulo, em 25 de outubro de 1979, foi solicitada a reconstituição da identidade e retificação do registro de óbito, que recebeu o n° 1288/79.

Apesar do pedido inicial ter sido deferido em 7 de novembro de 1980, o inquérito policial de Luís Eurico foi reaberto por ordem do Juiz da 1ª Vara, pois o corpo exumado da sepultura de Nelson Bueno não correspondia ao laudo descrito no processo – os ossos apresentavam fraturas indiscriminadas e não os orifícios correspondentes ao tiro no crânio com que, na versão policial, Luís Eurico teria se suicidado.

O inquérito foi encaminhado pelo Procurador-Geral da Justiqa da 2ª Vara Auxiliar do Júri de São Paulo, e enviada pelo Procurador Dr. Rubens Marchi, para o Departamento de Investigações Criminais – DEIC. A pedido do Delegado Francisco Baltazar Martins, encarregado das investigações, foram realizadas novas exumações no Cemitério Dom Bosco, em Perus, até ser encontrado um corpo que correspondia às características da morte de Luís Eurico.

Durante a nova fase de investigações, são evidentes as manobras realizadas junto aos moradores da pensão onde Luís Eurico teria sido encontrado morto, chegando até algumas delas a mudar, por completo, o depoimento feito em 1972.

Tais fatos não foram, entretanto, suficientes para processar a União pelo assassinato de Luís Eurico e, por falta de provas, o inquérito foi novamente arquivado, ratificada a conclusão de suicídio e entregues seus ossos, que foram trasladados do Cemitério Dom Bosco, em Perus, São Paulo, para Porto Alegre, em 2 de setembro de 1982, 10° ano de seu assassinato.

Em 1994 foi lançado o livro “Condições Ideais para o Amor” da Editora Tchê e Instituto Estadual do Livro, com poesias e cartas de Luis Eurico Tejera Lisboa e depoimentos de pessoas que o conheceram.

No livro está publicada uma carta de sua mãe, Clélia Tejera Lisbôa, escrita quando soube da descoberta do corpo de seu filho:

“Faz hoje vinte dias que fiquei sabendo dos acontecimentos relacionados com a morte de meu filho Luiz Eurico Tejera Lisbôa, desaparecido na primeira semana de setembro de 1972 e localizado, há mais ou menos dois meses, no cemitério de Perus, Estado de São Paulo, sob o falso nome de Nelson Bueno.

Por estar em Salvador da Bahia, acompanhando uma filha que fora hospitalizada, meus familiares não quiseram comunicar-me logo o que ocorria em relação a Luiz Eurico. Só tomei conhecimento dos fatos após meu retorno a Porto Alegre.

Antes de mais nada, quero deixar bem claro que a versão suicídio, dada por ocasião de seu assassinato, jamais será aceita por mim ou por qualquer pessoa que o tenha conhecido de perto. Quanto às tentativas de enlamear seu nome, são torpes e nojentas demais para que me digne a discuti-las.

Partindo de quem partiram, nem sequer me causam surpresa. Os amigos de meu filho, os que de um ou outro modo conviveram com ele, sabem que Luiz Eurico era um jovem idealista e estudioso. Seu único vício era a leitura, numa preocupação constante com o momento político-econômico deste país, indo à raiz dos fatos e buscando entender suas causas.

Releio neste momento a Declaração apresentada no 1° Encontro Estadual de Grêmios Estudantis, realizado de 21 a 23 de junho de 1968, cuja redaçäo esteve a seu cargo. Escrevendo, e lendo alguns trechos em voz alta para que eu pudesse acompanhar seu pensamento, dizia ele a certa altura:

‘A juventude já não aceita refugiar-se no intelectualismo oco de outros tempos, mas também recusa-se a compactuar, por assentimento ou omissão, com uma ordem social que desumaniza o indivíduo e destina à fome e à mais completa ignorância quase dois terços da humanidade.

A cultura deve extravasar os círculos limitados do deleite ou realização pessoal para assumir o papel de agente dinâmico na transformação da sociedade.

Este mundo de guerras, de sobressaltos e insegurança, do lucro como motor de desenvolvimento, dos grandes monopólios subordinando aos interesses de uma minoria todos os aspectos da vida social, este mundo dividido em explorados e exploradores, em que a fome elimina anualmente milhares de vezes mais vidas humanas do que a criminosa guerra do Vietnã, este mundo perdeu sua razão de ser, quando se consomem milhões de dólares para matar a outro homem, quando os orçamentos militares são constantemente aumentados em detrimento de necessidades vitais, quando a separação entre humildes e poderosos atinge as proporções de um verdadeiro cataclisma, quando as mais ponderadas manifestações de alerta são silenciadas a bala, quando o descontentamento se torna universal e o indivíduo desfalece nas tramas de forças materiais que ele não dirige e muitas vezes não compreende’.

Este era o terrorista Luiz Eurico Tejera Lisbôa.

Seu dizer era claro, firme e coerente com seu modo de pensar e agir.

Seus aterrorizados assassinos, com a cabeça vazia de idéias, souberam apenas empunhar uma arma.

Qualquer pessoa com inteligência mediana percebe logo que, tanto ele como vários de seus companheiros também assassinados, constituíam realmente um perigo em potencial. Eram inteligentes, estudiosos, sabiam pensar por si mesmos.

Haverá razão mais forte para exterminá-los?

Faz hoje vinte dias que venho tentando desviar meu pensamento dessa realidade brutal. Meus olhos estão cansados de chorar.

Mas não se enganem. Não choro de pena do meu filho que, onde quer que esteja, deve estar muito bem. É apenas de saudade.

Creio numa outra vida. A morte rápida de torturadores me dá a maior certeza disso. Ninguém devendo tanto pode escapar assim ligeirinho se não for pagar em outro lugar.

Os Torturadores Pagarão

Pelas noites de vigília que passei chorando a ausência de meu filho e a incerteza de seu destino;

Pelos dias, horas e minutos que vivi, numa quase obsessão, esperando que alguém chegasse, de repente, ao meu apartamento, para me dizer onde e como ele estava;

Pelos sete anos que passei sem poder me concentrar em nada, porque em minha mente só cabia sua imagem;

Pelo medo, que tantas vezes me assaltou, de tê-lo de volta inútil e deformado pelas torturas;

Pela miséria mais horrível que eu vi neste Brasil de norte a sul;

Pela vergonhosa impunidade dos torturadores e assassinos;

Pela saudade mais cruel que me acompanhou ao longo destes sete anos e que agora há de prolongar-se até o fim dos meus dias;

Por toda a transformação que meu filho tanto desejou ver neste país faminto e esquecido;

Tenho a mais profunda convicção de que uma força, bem maior que a capacidade de matar de seus assassinos, há de dar o merecido castigo aos que planejaram e determinaram, aos que, por aceite ou omissão, participaram e aos que executaram todo esse horror que está aí, presente, nas faces e nos olhos de mães, esposas, filhos e irmãos daqueles que foram estupidamente torturados e assassinados e dos que ainda sofrem as prisões!

Se Ele Voltasse...

Não choro de pena de meu filho. E, se fosse possível voltar de onde ele está, eu lhe pediria para continuar pensando e agindo como sempre pensou e agiu. Ainda que isso importasse em ser novamente assassinado.

Pois prefiro vê-lo morto, uma e mil vezes, a tê-lo por longos anos a meu lado numa inconsciência inútil, estúpida e criminosa!

Luiz Eurico Tejera Lisbôa, seu espírito há de pairar sobre os justos movimentos reivindicatórios deste país, dando força, lucidez e coragem a seus participantes !

Luiz Eurico Tejera Lisbôa, onde quer que esteja há de estar pedindo justiça e liberdade para este povo humilde e esquecido que ele tanto amou!

Porto Alegre,10 de setembro de 1979.”

Fonte: www.torturanuncamais-rj.org.br

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

The Greatest Environmentalist of the 20th Century


The Greatest Environmentalist of the 20th Century



By Ralph Nader

Dr. Barry Commoner, equipped with a Harvard PhD in cellular biology, used his knowledge of biology, ecosystems, nuclear radiation, public communication, networking scientists, political campaigning, and community organizing to become the greatest environmentalist in the 20th century.

He died on September 30 at the age of 95, deeply involved in challenging conventional dogmas in the field of the genetic engineering.

The range and depth of his work flowed from an integrative public philosophy of what makes the world work or not work in the interaction between what he called the “technosphere and the ecosphere.” His best-selling books were brilliant, clear and motivating.

In all the years I’ve known him, he maintained his methodical approach to analyzing problems and recommending superior strategies to achieve superior solutions.

He kept his composure even in the most raucous public gatherings where others were arguing or shouting at one another. The mainstream media liked his calm demeanor, conveying a searing evaluation that went to the root causes of what and how we produce.

He made the cover of Time magazine, as a symbol of the first Earth Day’s activities nationwide in April 1970, was a frequent guest of network TV shows and wrote for major publications such as The New York Times.

A fundamental inquirer, Commoner took on his fellow scientists who seemed indifferent to the nuclear arms race with the Soviet Union and the radioactive fallout from A-bomb testing.

While working as, in the Times’ words, a “brilliant teacher and a painstaking researcher into viruses, cell metabolism and the effects of radiation on living tissue” at Washington University, he sparked the St. Louis Committee for Nuclear Information, which in turn mobilized enough scientists around the country to push for the nuclear test ban treaty that President John F. Kennedy proposed in 1963.

One of his “laws of ecology” is that “everything is connected to everything else,” and he wasn’t just referring to natural systems. Wars, corporate power and greed, injustice, discrimination and poverty connect to what makes people sick and die.

He declared that prevention, rather than wrangling over piecemeal regulation, was the most effective way to protect our air, water, soil and food. He pointed to lead in gasoline that was prohibited at long last, not gradually regulated. The banning outright of vinyl chloride was another example of prevention.

He told Scientific American: “What is needed now is a transformation of the major systems of production….Restoring environmental quality means substituting solar sources of energy for fossil and nuclear fuels; substituting electric motors for the internal-combustion engine; substituting organic farming for chemical agriculture, expanding the use of durable, renewable and recyclable materials – metals, glass, wood, paper – in place of petrochemical products that have massively displaced them.”

He told me in the 1980s that he wanted to write a book about the necessity and practicality of replacing the petrochemical industry. Commoner urged the Department of Defense in detail to use solar technologies for economic and environmental reasons and thereby jumpstart an expanding civilian market for solar. The Navy, where he served in World War II, did install thousands of photovoltaics at remote locations to save money and cut pollution. Procurement by government is a great stimulus to innovation and avoids the regulatory delays by corporate lobbyists.

Pollution in the workplace attracted his expertise when we needed it in pressing for the Occupational Safety and Health Act of 1970. When he brought poverty into his focus, he showed how impoverished racial minorities were exposed to higher intensities of polluting installations where they lived, due to their powerlessness.

This “laid the groundwork for what later became known as the environmental justice movement,” as Professor Peter Dreier of Occidental College recently wrote.
Always the practical modern Renaissance man, Commoner helped start the Citizens Party in 1979 and was chosen as the party’s presidential candidate.

He knew how Third Parties are structurally marginalized in the U.S., as compared with the Green Party in Germany, but he wanted to enlarge the public consciousness to connect causes and consequences.

He later joked about the time a reporter in New Mexico asked him: “Dr. Commoner, are you a serious candidate, or are you just running on the issues?”

Too bad the media didn’t heed his clarion calls to action.

Unperturbed, Commoner applied his knowledge in many other directions, including a pioneering pilot recycling program in New York City, to show how most trash could actually be reused or recycled.

Today’s younger environmental activists hardly know of Commoner and his three great books – The Closing Circle (1971), The Poverty of Power (1976) and Making Peace With the Planet (1992), all of which remain unsurpassed and timely in their integrative frameworks for understanding and leveraged action.
I called Barry to congratulate him on his 90th birthday. “It happens,” he replied wryly. For the people, flora and fauna on the planet Earth, it is a great gift that Barry Commoner “happened.”

His students, supporters and some wealthy benefactors in this nation should extend his broad-gauged approach (“the finely-sculptured fit between life and its surroundings”) by establishing an Institute of Thought and Action in his name.

Those interested in donations in Barry’s name can make them out to the Center for the Biology of Natural Systems, sent to Sharon Peyser, Queens College – CBNS, Remsen 311, 65-30 Kissena Boulevard, Flushing, N.Y. 11367

Fonte: nader.org

En el Día Nacional de la Jaima

En el Día Nacional de la Jaima: estudiantes universitarios saharauis en Marrakech organizan sentada pacífica


Marrakech (Marruecos),09/10/12 (SPS) -.  Los estudiantes saharauis en  la Universidad de Marrakech  han organizado una sentada  pacífica en conmemoración del Día Nacional de la Jaima saharaui que se conmemora  cada año el 10 de octubre, informó una fuente del Ministerio de Territorios Ocupados y de las Comunidades en el Exterior.

La sentada se realiza en el marco de las celebraciones del 2 º aniversario de  la instalación de la prima Jaima que más tarde conformaría  el primer  campamento  símbolo de  resistencia pacífica y de protesta contra la ocupación marroquí  y para reivindicar la autodeterminación del pueblo saharaui, el campamento de la dignidad, Egdeim Izik.

Los estudiantes saharauis corearon varias consignas que glorifican la bendita  Intifada  de la Independencia (levantamiento) en los territorios saharauis ocupados.

También expresaron su determinación de continuar la lucha hasta lograr el supremo  objetivo que es la total independencia de la República Saharaui.

El Consejo de Ministros saharaui declaró el año pasado  el 10 de octubre de cada año como el Día Nacional de Saharaui de la Jaima.

Fonte: SPS

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

FRANÇA DE VICHY - O GOVERNO DA DESONRA DE UMA NAÇÃO

FRANÇA DE VICHY - O GOVERNO DA DESONRA DE UMA NAÇÃO

DE VICHY FRANCE - LE GOUVERNEMENT DE LA HONTE D'UNE NATION

DE VICHY FRANCE - THE GOVERNMENT OF SHAME OF A NATION

DE VICHY FRANCIA - EL GOBIERNO DE LA VERGÜENZA DE UNA NACIÓN

DE FRANCE VICHY - Правительство позор нации

法国维希政权 - 政府国家感到羞耻

Por JEOCAZ LEE-MEDDI - Escritor


Em 1939 os exércitos de Hitler invadiram a Polônia, tendo como conseqüência a deflagração da Segunda Guerra Mundial. Inglaterra e França foram as primeiras nações a declarar guerra à Alemanha.

Menos de um ano depois, o exercito francês foi capitulado, obrigando à redenção total da França ante ao regime nazista.
Humilhada, a França, através do marechal Philippe Pétain, assinou o acordo de rendição à Alemanha, sendo dividida em duas zonas principais: ocupada e não ocupada.

A chamada França ocupada, que consistia na parte norte e ocidental, toda a costa do Atlântico Norte e a capital Paris, passou a ser controlada diretamente pelo regime nazista; o restante do território seria administrado por um suposto regime livre, liderado por Pétain, com capital na cidade de Vichy.

Surgia o Estado Francês, vulgarmente chamado de França de Vichy, ou República de Vichy.

O período em que a França livre foi governada da cidade de Vichy durou de 1940 a 1944, sendo um dos mais obscuros da história do país. Pétain construiu um regime colaboracionista com os nazistas, movido pela direita conservadora e moralista.

Durante quatro anos, as Milícias de Vichy prenderam cidadãos que se opunham ao regime, fuzilou suas lideranças, entregou os judeus franceses aos alemães, além de adotar a política nazista da segregação racial, enviando ciganos, prostitutas, indigentes, homossexuais e outras minorias para os campos de concentração.

Também a eugenia fez parte desse regime de exceção do Estado Francês.

Na contramão da França de Vichy surgiu a Resistência Francesa, movimento liderado por oponentes idealista, que com operações logísticas de inteligência de guerra, sabotavam, combatiam e lutavam por um país livre da ocupação nazista e do regime infame governado por Pétain.

O regime da França de Vichy só se extinguiu com a chegada das forças Aliadas ao país, a libertação da opressão nazista e o fim da Segunda Guerra Mundial. Passou para a história como o momento mais vergonhoso do povo francês.

Ainda hoje historiadores dividem-se sobre o período, alguns acham um mal necessário, com a população a pagar os custos da invasão às tropas alemãs, evitando que os franceses deixassem o país.

Outros acham que melhor teria sido não aceitar tão humilhante regime imposto pelos nazistas, e sim deixar o continente, formando um exército de resistência no Norte da África, nas então colônias francesas daquele continente. Por trás da França de Vichy estavam os franceses que sustentavam a idéia de uma França de raça pura e de ideais nacionalistas próximos às ditaduras de Franco, da Espanha, e do próprio Hitler, da Alemanha nazista.

Colaboracionismo, racismo, perseguições e fuzilamentos marcaram com uma grande nódoa a história da França, fazendo da República de Vichy um momento de humilhação e vergonha do povo francês.

A França é Capitulada pelos Alemães


O governo nazista de Adolf Hitler propunha a elevação e expansão da Alemanha, transformando-a na maior potência da Europa e do mundo. A ideologia nacionalista do governo do Terceiro Reich procurava devolver ao povo alemão a alto-estima perdida após a derrota sofrida na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

Em 1938, com o consentimento do povo austríaco, Hitler anexou a Áustria à Alemanha.

No mesmo ano, reivindicou a integração dos Sudetos, região montanhosa da antiga Tchecoslováquia, habitada por minorias germânicas. Diante da ameaça expansionista nazista, foi realizada uma conferência internacional em Munique, onde a França e a Inglaterra cederam às intenções dos alemães, permitindo a anexação dos Sudetos.

Mas os objetivos expansionistas da Alemanha não pararam. Em 1 de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia, derrotando as tropas polacas em um mês. A parte oriental da Polônia foi ocupada pela União Soviética, no cumprimento do acordo Ribbentrop-Molotov, assinado entre as duas nações.

Desta vez, França e Grã-Bretanha opuseram-se a esta invasão, declarando guerra à Alemanha. Iniciava-se o maior conflito da humanidade, a Segunda Guerra Mundial.

A guerra entre a Alemanha e França foi considerada como uma falsa demonstração de poder, visto que o exército francês estava aquém das forças do Reich.

Numa guerra relâmpago, os franceses seriam capitulados em poucos meses. Em 10 de maio de 1940 começou a ofensiva alemã contra os exércitos franceses, dando início à Batalha de França. Em poucos dias, a Holanda e a Bélgica sucumbiriam às forças nazistas.

Em 20 de maio, o primeiro ministro francês, Paul Reynaud, demitiu o general Gamelin, nomeando o general Weygand para que traçasse a estratégia e medidas contra o cerco alemão. A partir de 23 de maio, as cidades portuárias da região de Calais foram sucumbindo uma a uma, ao exército de Hitler.

A ofensiva prosseguiu rumo a Paris. Em 5 de junho, o exército francês comandado por Weygand foi derrotado. Em 10 de junho, a Itália, aliada da Alemanha, declarou guerra à França. Em 14 de junho, os alemães tomaram Paris.

Em fuga, o governo francês transferiu-se para Bordéus, à espera da ajuda dos aliados britânicos.

Após a queda de Paris, o marechal Philippe Pétain anunciou publicamente, através do rádio, em 17 de junho, que a França proporia um armistício, com a intenção de render-se aos alemães.

O primeiro-ministro Reynaud, recusou-se a assinar a rendição, demitindo-se do cargo. Em 22 de junho de 1940, o marechal Pétain, que assumiu o lugar de Reynaud, assinou o armistício com a Alemanha, após a rendição do Segundo Grupo do Exército Francês, entrando em vigor em 25 de junho.

Ironicamente, a rendição oficial, foi dada em Compiègne, no mesmo trem que a Alemanha, em 1918, ao fim da Primeira Guerra Mundial, fora obrigada a render-se. Imagens do marechal Pétain a apertar a mão de Adolf Hitler tornam-se símbolos da propoganda nazista, sendo divulgadas pelo mundo inteiro.

Estava concretizada a maior vitória dos exércitos do Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial.

Criada a França de Vichy


Com a ocupação da França pelos nazistas, não só a situação política-administrativa do país foi alterada, como também a sua geografia.

No mapa da Europa, a França foi dividida em três partes: a França de Vichy, formada pelo centro-sul do país, com o governo entregue ao marechal Pétain, com centro administrativo a partir da cidade de Vichy, na França central, sendo ali exercido um governo colaboracionista com os nazistas, com forte orientação fascista.

A França Ocupada, formada pelo norte e pela costa atlântica francesa, incluindo a capital, Paris; sendo uma zona comandada diretamente pelas autoridades militares germânicas.

Finalmente, a terceira parte, os territórios da Alsácia-Lorena, foi anexada à Alemanha, tornando-se parte do território daquele país.


A divisão da França pôs fim à Terceira República Francesa (1870-1940). Na França de Vichy, Paris continuou a ser a capital oficial, embora não o fosse administrativamente. Philippe Pétain era, em 1940, um velho herói da Primeira Guerra Mundial. Durante o tempo que governou de Vichy, prometeu sempre devolver a administração a Paris, assim que o fosse possível fazer.

O governo de Vichy apresentava-se como um regime de neutralidade à guerra, mas na prática colaborava ativamente com o governo de Hitler.

O termo “República Francesa” foi substituído por “Estado Francês”. Para garantir o regime, em 10 de julho de 1940, Pétain conclamou a França de Vichy, através de uma Assembléia Nacional, deixando de ser o último primeiro-ministro da Terceira República, transformando-se no chefe do Estado Francês, obtendo amplos poderes no novo cargo.

O regime de Vichy na verdade governava à sombra das diretrizes de Berlim. Não administrava apenas a considerada zona livre do sul da França, a sua jurisdição estendia-se ao longo de toda a França metropolitana, com exceção da Alsácia-Lorena, território que se tornou parte da Alemanha.

Quando as forças Aliadas desembarcaram no Norte da África, os alemães desencadearam a Operação Processo Anton, em 11 de novembro de 1942, ocupando o sul da França, zona considerada neutra e livre.

O regime de Vichy continuou a exercer jurisdição sobre quase toda a França, apesar de ter os poderes diminuídos. A partir de então, a colaboração com os nazistas tornou-se mais intensificada, sendo adotados claramente as suas políticas raciais.

O marechal Pétain tornou-se chefe de um Estado com um programa político reacionário, ao qual chamou de “Revolução Nacional”, que se proclamava como regenerador da nação.

A Política Racial do Regime de Vichy

O regime de Vichy tornou-se autoritário, que não só aceitou a ocupação alemã, como assimilou várias facetas da sua ideologia. Sustentava-se no poder pelo regime de Hitler, pelo medo e opressão à população, garantidos pela terrível polícia do Estado, a Milícia (Milice).

Temida pelos franceses, a Milícia garantia a face repressiva e racial do regime. Capturava os indesejáveis pelos alemães, tanto na parte norte, como no sul do país, prendendo-os, fuzilando-os ou simplesmente entregando-os aos alemães, para que fossem enviados para campos de concentração nazistas.

Membros da Resistência e judeus eram os seus alvos favoritos.

Sob o comando do marechal Pétain, o regime de Vichy tomou medidas drásticas e de caráter repressivo contra diversas etnias e setores da sociedade francesa.

Imitando a política vergonhosa de perseguição racial, começou uma caça aos imigrantes, chamados de métèques, aos judeus, maçons, ciganos, homossexuais, comunistas e outras minorias.
Já em julho de 1940, tão logo o regime foi implantado, foi criada uma comissão para rever a lei da nacionalidade de 1927, que concedera a cidadania francesa a vários estrangeiros, em especial aos judeus vindos do leste europeu na década de 1930, fugindo da perseguição do regime nazista.

Iniciou-se o processo de desnaturalização que, de 1940 a 1944, tempo que durou a França de Vichy, atingiu mais de quinze mil pessoas, sendo os judeus os mais atingidos.

Em outubro de 1940, foi editado um decreto que autorizava a internação dos judeus em campos de concentração franceses, abertos durante a Terceira República, e que serviriam de trânsito para a execução do Holocausto. Após passar pelos campos franceses, todos os deportados eram enviados para os campos nazistas do leste europeu.

Além dos judeus, os ciganos foram os principais remetidos para os campos de extermínios. Camp Gurs era o principal local de internamento de presos, construído antes da Segunda Guerra Mundial. Em 1940 recebeu o primeiro contingente de prisioneiros daquela guerra, que incluía anarquistas, comunistas, sindicalistas e antimilitaristas.

Com a implantação do regime de Vichy, vários outros campos de concentração foram abertos em solo francês, sendo o primeiro deles o de Aincourt, em Seine-et-Oise. O Camp des Milles, próximo a Aix-en-Provence, foi o maior campo de concentração do sudeste francês, sendo de lá deportados cerca de 2.500 judeus. Na Alsácia, os alemães abriram o campo de Natzweiller, que incluía uma câmera de gás, utilizada para executar aproximadamente 86 prisioneiros, sendo a maioria judeus.

Com a perda da nacionalidade, os judeus passaram a ser classificados como “Grupos de Trabalhadores Estrangeiros”. Passaram a ter que usar um distintivo amarelo, sendo excluídos da administração civil. O regime de Vichy permitiu o uso da eugenia como programa destinado para preservar o francês de raça pura. Felizmente, o programa não foi tão longe quanto o seu similar desenvolvido pelos nazistas.

A Resistência Francesa


Após a assinatura do armistício em Compiègne, que aceitava a invasão da França pelos nazistas e a sua divisão administrativa; vários setores da sociedade francesa opuseram-se à submissão do seu país. Iniciava-se uma resistência ao regime colaboracionista de Vichy e à ocupação germânica. Grupos vindos de todas as camadas sociais francesas, desde os comunistas, judeus, anarquistas, sacerdotes, católicos conservadores, liberais, jornalistas; uniram-se para dar corpo ao que ficou conhecido com Resistência Francesa.

Após a ocupação alemã, grande parte da população francesa manteve-se neutra, procurando continuar a vida sem manifestação contrária ou favorável àquela situação.

O regime de Vichy mostrou-se autoritário, espelhado nos governos fascistas, iniciando uma repressão violenta aos que se opunham a ele e aos alemães. A opressão passou a gerar um número pequeno de patriotas descontentes. O envolvimento sentimental das mulheres francesas com os ocupantes alemães causou a repulsa dos homens, ofendendo-lhes a honra.

A desvalorização da moeda francesa diante da alemã permitiu que os nazistas usufruíssem os privilégios econômicos, enquanto que os franceses mergulhavam em grande miséria, causada por uma galopante inflação e escassez de alimentos.

Crianças e idosos sofriam com a desnutrição, combalindo diante da fome. Milhares de trabalhadores franceses foram transferidos para trabalhar na indústria alemã, em plena ascensão, enquanto que as fábricas francesas entravam em colapso, trazendo um grande desemprego.

Todos estes fatores, aliados ao patriotismo e à falta de liberdade civil, com toques de recolher à noite e a repressão política durante o dia, levaram à revolta, passiva ou ativa, da população francesa.

O Estado Francês, dirigido pelo marechal Pétain, extinguiu os partidos, os sindicatos, a liberdade da imprensa, com perseguições e prisões de líderes políticos. O descontentamento não era somente com os invasores germânicos, mas com o governo reacionário de Pétain e dos seus aliados, que se mostrava opressivo e sem honra diante da colaboração com os nazistas, a quem se havia declarado guerra em 3 de setembro de 1939.

A situação forçou a união de vários grupos de movimentos de resistência. Seus membros passaram a ser chamados de partisons (partidários), desenvolvendo um esquema de inteligência logística contra os inimigos, alemães ou franceses colaboracionistas.

Os núcleos de resistência passaram a existir desde a capitulação da França pelos alemães, em junho de 1940, e da instauração do regime de Vichy, visto por líderes políticos como vergonhoso. Estudantes universitários que se proclamavam revolucionários, criaram o jornal “Resistência”.

Ainda naquele ano fatídico de 1940, a Resistência teve as suas lideranças iniciais levadas prisioneiras ao campo de concentração de Camp Gurs, entre eles, os comunistas, estudantes, sindicalistas e líderes de esquerda em geral.
Com o passar do tempo, um maior número de pessoas uniram-se aos grupos de resistência.

No norte, ocupado e governado diretamente por autoridades militares do Terceiro Reich, surgiram, entre 1941 e 1942, a Organization Civile et Militaire e o Liberation-Nord. Desenvolviam táticas de guerrilhas, logísticas de inteligência e sabotagem aos governantes e às polícias de Estado, e aos alemães invasores. No sul, até 1942, a Resistência concentrava as suas ações na propaganda, visto que era zona não ocupada pelos alemães. Quando os territórios do sul foram ocupados, mudaram de tática.

No sul a intensidade da Resistência era menor, uma vez que a sua população conservadora apoiava, na maioria, o governo do marechal Pétain. Apenas os adeptos da esquerda aderiam à Resistência.
Até 1941, a Resistência centrava as ações em atividades clandestinas e lutas de guerrilha.

A partir daquele ano, em outubro, passaram a receber apoio das forças Aliadas, quando o governo britânico decidiu ajudar, criando em Londres o Bureau Central de Renseignements et d’Action (BCRA), comandado pelo coronel Dewaurin.

A Resistência passou a usar a Cruz de Lorena como símbolo da França livre. Pequenos grupos de homens e mulheres armados desenvolviam as ações contra os inimigos através das zonas rurais, passando a ser chamados de maquis.

Diante do crescimento logístico dos grupos de resistência, o governo do marechal Pétain passou a combatê-los com uma intensa repressão. Inúmeros comunistas passaram a ser cassados pela Milícia.

Em agosto de 1941, em represália à Resistência, foram estabelecidos os métodos de punição coletiva, que tomava reféns entre a população, que passavam a ser fuzilados a cada investida dos rebeldes. No decurso do regime de Vichy e da ocupação alemã, cerca de trinta mil franceses foram fuzilados como reféns em represália aos atos da resistência.

Algumas aldeias, como Oradour-sur-Glane, foram destruídas pelos alemães, tendo a população massacrada, como uma resposta às atividades da Resistência ao redor. Em Lyon, o movimento de resistência Franc-Tireur, nascido em torno de alguns jornalistas, teve o seu maior líder, Marc Bloch, assassinado pelos nazistas.

A Milícia, formada por um grupo de paramilitares, foi criada no início de 1943, para combater a Resistência, e dar apoio às tropas alemãs, que desde 1942, estavam espalhadas por todo o território francês.

A Milícia tornou-se uma espécie de Gestapo francesa, colaborando estreitamente com os nazistas. Tornou-se temida pela população, por usar métodos brutais de tortura e executar sumariamente a todos que suspeitassem pertencer à Resistência.

Os temidos miliciens só encerrariam as suas atividades após a libertação da França pelos Aliados, em 1944. Na ocasião, grande parte da polícia terrorista do regime de Vichy foi condenada por colaboracionismo e executada. Muitos fugiram para a Alemanha, sendo incorporados na divisão do Charlemagne da Waffen-SS.

A atuação da Resistência Francesa foi de grande importância aos Aliados durante a invasão da Normandia, em 6 de junho de 1944. Foram eles que conduziram as forças Aliadas através da França, passando informações militares sobre os inimigos, além de proporcionar sabotagens nas telecomunicações, transportes e energia que abasteciam os alemães invasores.

Ao lado dos Aliados, formaram unidades chamadas de Forças Francesas do Interior (FFI). As FFI reuniam em junho de 1944, cerca de cem mil membros, crescendo rapidamente, atingido o número de quatrocentos mil combatentes até outubro daquele ano.

A Resistência Francesa foi fundamental para que a França não morresse moral e politicamente durante a ocupação nazista e a duração do regime de Vichy. Gerou vários heróis, como o mítico Jean Moulin, morto pela Gestapo em 1943.

Com o fim da França de Vichy, a Resistência Francesa floriu como o único motivo de orgulho e honra do povo francês durante o mais obscuro dos períodos da sua história, em que a colaboração com os nazistas trouxe desconforto e humilhação diante do mundo.

Jean Moulin, o Herói da Resistência


Se o general Charles De Gaulle é o herói vencedor da opressão nazista sobre a França, o seu libertador invencível; Jean Moulin é o herói mártir, símbolo daqueles que resistindo dentro de uma França colaboracionista, pagaram com a vida o direito de lutar pela liberdade.

Jean Moulin é a própria imagem do galã frágil e sensível, mas decidido a cumprir o seu destino trágico, mas heróico, em nome do seu país, do fim da opressão e pela liberdade de ir de vir. Tornou-se o maior símbolo da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial.

Nasceu em Béziers, sudeste da França, próximo do mar Mediterrâneo, no fim do século XIX, em 20 de junho de 1899.

Na juventude, alistou-se no exército francês, em 1918, para lutar pelo seu país na Primeira Guerra Mundial. Com o fim da guerra, voltou aos estudos, licenciando-se em Direito, em 1924.

Muito cedo Jean Moulin deixou-se enveredar pela carreira administrativa. Em 1922 iniciava uma brilhante carreira política, exercendo o cargo de chefe de gabinete de deputado em Sabóia. De 1925 a 1930, tornou-se subprefeito de Albertville, sendo o mais jovem francês a exercer o cargo.

A vida de Jean Moulin sempre foi marcada pela ideologia política. Sua vida amorosa é menor diante da sua luta ideológica. Casou-se uma vez, em setembro de 1926, com Marguerite Cerruti, de quem se iria divorciar dois anos mais tarde, em 1928.

Durante a Guerra Civil Espanhola, Jean Moulin ajudou as forças de esquerda que lutavam contra o general Francisco Franco. As versões da participação de Jean Moulin neste período divergem, trazendo dados obscuros. Alguns historiadores acreditam que ele forneceu armas soviéticas para os espanhóis, mas a versão mais aceita é de que, de dentro do Ministério da Aviação, ofereceu aviões franceses aos que lutavam contra o fascismo na Espanha.

Além da vertente política, Jean Moulin era um exímio ilustrador e caricaturista. No início da década de 1930 chamou a atenção pelas caricaturas políticas que publicou no jornal “Le Rire”, usando o pseudônimo de Romanin. Ilustrou o livro do poeta Tristan Corbière.

Em janeiro de 1937, nomeado para o departamento de Aveyron, tornou-se o mais jovem prefeito da França. Em 1939 foi nomeado prefeito do departamento de Eure-et-Loire. Quando exercia o cargo, foi apanhado pela invasão dos alemães ao seu país. Logo no início, em 1940, foi preso pelos nazistas por recusar a colaborar com os invasores, não assinando falsos documentos por eles propostos.

A sensibilidade de Jean Moulin foi rompida pela perda da liberdade. Desesperado, ele tentou o suicídio na prisão, cortando a garganta com um pedaço de vidro. A tentativa deixou-lhe uma cicatriz indelével, que sempre escondia com um cachecol.

A imagem sensível, de galã romântico, com o pescoço coberto por um cachecol, tornou-se a mais conhecida através das décadas, chegando intacta aos tempos atuais.

Após a implantação do regime de Vichy, o governo colaboracionista ordenou que todos os prefeitos de esquerda, eleitos nas cidades e aldeias francesas fossem demitidos. Recusando a cumprir a ordem, Jean Moulin foi removido do próprio escritório.

Foi então que entrou para a Resistência Francesa.

Em setembro de 1941, usando o nome de Jean Joseph Mercier, partiu para a Inglaterra, encontrando-se com o general Charles De Gaulle. Em Londres, De Gaulle encarregou-o de unificar os movimentos de resistência contra a invasão nazista na França, sendo nomeado delegado da zona não ocupada francesa, tendo o apoio do comitê de Londres. No início de 1942, Jean Moulin reuniu-se com membros da Resistência, dando início à missão delegada por De Gaulle.

De volta a Londres, em fevereiro de 1943, foi encarregado de uma nova missão, formar o Conselho Nacional da Resistência (CNR). A primeira reunião do CNR aconteceria em Paris, em 27 de maio de 1943, tendo Jean Moulin como presidente.

Em 21 de junho de 1943, no primeiro dia do verão, e um dia após ter completado 44 anos de idade, Jean Moulin e vários líderes da Resistência foram presos em Caluire-et-Cuire, um subúrbio de Lyon. Uma versão sobre a prisão de Jean Moulin aponta para uma possível traição de René Hardy, que foi capturado e libertado pela Gestapo. Outros historiadores acreditam que René Hardy, ao ser seguido pelos alemães, foi simplesmente imprudente.

Em Lyon, Jean Moulin foi interrogado pelo chefe da Gestapo, Klaus Barbie, sendo levado mais tarde para Paris. Mesmo sob tortura, o líder da Resistência não revelou nenhum segredo aos alemães. Durante a transferência para a Alemanha, Jean Moulin morreu perto de Metz, no dia 8 de julho de 1943.

Provavelmente devido aos ferimentos sofridos pela tortura. Mais tarde, Klaus Barbie alegaria que o herói da Resistência Francesa teria morrido pelas próprias mãos, em uma tentativa de suicídio. Alguns biógrafos do mártir apóiam esta versão, acrescentando que Barbie teria ajudado pessoalmente à tentativa.

Jean Moulin tornou-se símbolo de retidão cívica e de patriotismo numa época de muitos anti-heróis e de desonra de uma nação. Tornou-se uma lenda do século XX na França, sendo homenageado e referendado por todas as gerações que viram ou procederam ao seu martírio.

Inicialmente foi enterrado no Cemitério Père Lachaise. Em 19 de dezembro de 1964, suas cinzas foram transferidas para um memorial no Panteão de Paris.

O Fim da França de Vichy


Com a chegada das forças Aliadas em junho de 1944, a França seria libertada da ocupação nazista alguns meses depois. A legitimidade da França de Vichy e do seu chefe de Estado, marechal Philippe Pétain, foi contestada pelo general Charles De Gaulle e pelas suas forças francesas livres, primeiro com base em Londres, e mais tarde, através de Argel, no Norte da África, onde foi declarado que o regime de Vichy não passou de um governo ilegal e de traidores colaboracionistas com as forças do Terceiro Reich, com fortes inclinações inspiradas na ideologia nazista.

Em junho de 1944, logo a seguir à invasão da Normandia, que levou a uma seqüência de ações que culminaria na libertação da França, o general De Gaulle proclamou o Governo Provisório da República Francesa (GPRF).

Em agosto as forças dos Aliados chegaram a Paris, libertando finalmente, a capital francesa de quatro anos de ocupação e humilhação impostas pelas forças dos exércitos alemães. O GPRF instalou-se em Paris, em 31 de agosto, vindo a ser reconhecido pelos Aliados como governo legítimo da França, em 23 de outubro de 1944.

A libertação da França pelos Aliados, ocasionou a fuga dos funcionários e simpatizantes da França de Vichy, entre agosto e setembro de 1944, sendo o regime movido para Sigmaringen, na Alemanha, onde foi estabelecido um governo no exílio, liderado pelo marechal Pétain. O regime de Vichy no exílio durou até abril de 1945, quando os Aliados chegaram a Berlim, pondo fim ao governo nazista de Adolf Hitler.

Na reconstrução de uma República francesa livre, importantes lideranças, políticos e militares do regime de Vichy foram julgados e executados como traidores e colaboracionistas.

As mulheres que se envolveram com os nazistas, sendo deles amantes, tiveram os cabelos raspados em praça pública, para que fosse exposta a sua desonra. O marechal Philippe Pétain foi condenado à morte por alta traição, mas teve a pena comutada para prisão perpétua.

A imagem do governante a apertar a mão de Adolf Hitler ficaria para sempre marcada na lembrança dos franceses, como um símbolo de vergonha daquele povo.

Durante o período da França de Vichy, de 1940 a 1944, o exercito francês seria reduzido a cem mil homens; os prisioneiros de guerra seriam mantidos em cativeiro. A população francesa mergulharia na miséria, com a fome a tomar grande forma, assolando a nação.

Estima-se que a França forneceu 42% da ajuda externa à economia alemã durante a Segunda Guerra Mundial.

Fonte: Postado em 09/07/2009 por Jeocaz Lee-Meddi em seu excepcional blog - virtualiaomanifesto.blogspot.com - que recomendamos com louvor.