República Árabe Saharaui Democrática


O POVO QUE O MUNDO ESQUECEU


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O POVO QUE O MUNDO ESQUECEU


Bem-vindos ao blog phoenixsaharaui.blogspot.com.br


A criação deste espaço democrático visa: divulgar a causa Saharaui, buscar o reconhecimento pelo Brasil da República Árabe Saharaui Democrática e pressionar a União Européia, especialmente a Espanha, a França e Portugal, mais os EUA, países diretamente beneficiados pela espoliação dos recursos naturais do povo Saharaui, para retirarem o apoio criminoso aos interesses de Mohammed VI, Rei do Marrocos, e com isto permitir que a ONU prossiga no já tardio processo de descolonização da Pátria Saharaui, última colônia na África.


Membro fundador da União Africana, a RASD é reconhecida por mais de 82 nações, sendo 27 latino-americanas.


Nas páginas que seguem, você encontrará notícias do front, artigos de opinião, relato de fatos históricos, biografias de homens do porte de Rosseau, Thoreau, Tolstoy, Emersom, Stuart Mill e outros que tiveram suas obras imortalizadas - enxergaram muito além do seu tempo - principalmente em defesa da Liberdade.


"Liberté, Égalité, Fraternité", a frase que embalou tantos sonhos em busca da Liberdade, é letra morta na terra mãe.


A valente e obstinada resistência do povo Saharaui, com certeza encontraria em Jean Molin - Herói da resistência francesa - um soldado pronto para lutar contra a opressão e, em busca da Liberdade, morrer por sua Pátria.


A Literatura, a Música, a Pintura e o Teatro Saharaui estarão presentes diariamente nestas páginas, pois retratam fielmente o dia-a-dia deste povo, que a despeito de todas as adversidades, em meio a luta, manteve vivas suas tradições.


Diante do exposto, rogamos que o nosso presidente se afaste da posição de neutralidade, mas que na verdade favorece os interesses das grandes potências, e, em respeito a autodeterminação dos povos estampada como preceito constitucional, reconheça, ainda em seu governo, a República Árabe Saharaui Democrática - RASD.


Este que vos fala não tem nenhum compromisso com o erro.


Se você constatar alguma imprecisão de datas, locais, fatos, nomes ou grafia, gentileza comunicar para imediata correção.


Contamos com você!


Marco Erlandi Orsi Sanches


Porto Alegre, Rio Grande do Sul/Brasil

terça-feira, 20 de julho de 2010

Um Timor-Leste à nossa porta


Um Timor-Leste à nossa porta

A recente greve de fome realizada pela activista saharauí Aminetu Haidar, após ter sido expulsa do Sahara Ocidental pelas autoridades marroquinas de ocupação, e a onda de solidariedade que ela gerou um pouco por todo o mundo fizeram lembrar o rastilho de indignação e o clamor de justiça que deflagraram quando dos últimos estertores da ocupação Indonésia na ex-colónia portuguesa de Timor-Leste.

A resistência corajosa e o apelo à justiça que essa frágil mulher reclamava para a sua situação — que apontava tão-somente como exemplo do sofrimento de todo o seu povo sujeito a ocupação e privado das mais elementares liberdades e direitos de cidadania — convenciam pela autenticidade e deitavam por terra a falsidade manifestada na argumentação do país ocupante ou nas derivas retóricas das diferentes diplomacias envolvidas.

DUAS INVASÕES E OCUPAÇÕES MUITO SEMELHANTES

Por estranho que possa parecer, a melhor maneira de mostrar a grave situação em que se encontra o Sahara Ocidental — um território bem próximo de Portugal — é compará-la com a que se viveu em Timor-Leste entre 1975 e 1999. Isto porque em Portugal muito se sabe sobre Timor-Leste, mas pouco, ou muito pouco, se conhece sobre o Sahara Ocidental. Se praticamente todo o Portugal se irmanou pela causa de Timor, porque não a mesma solidariedade para com o Sahara Ocidental? As questões de Timor e do Sahara são como duas gotas de água. Com a chegada da democracia à Península Ibérica, ambos os territórios deram passos no sentido da sua autodeterminação. Mas, antes que tivessem podido exercer esse direito, foram invadidos por países vizinhos em 1975, com apenas um mês de intervalo. Esses países vizinhos — a Indonésia e Marrocos —, viviam ambos sob uma ditadura brutal. Suharto e Hassan II usaram o mesmo falso pretexto para as anexações: uma reintegração dos territórios impedida pelo colonialismo…

Na realidade, Timor nunca fez parte de nenhuma unidade política que tivesse precedido a República Indonésia, nem o Sahara Ocidental jamais teve laços de soberania com o antigo sultanato de Marrocos — isso mesmo foi comprovado pela sentença do Tribunal Internacional de Haia em 1975. Contraditoriamente — porque ou se falava de reintegração ou de direito à autodeterminação — Suharto e Hassan II alegaram depois que, afinal, “através da ocupação”, os povos dos territórios ocupados tinham chegado a exercer aquele seu direito! No entanto, a ONU não reconheceu os pretensos actos de autodeterminação e manteve Timor-Leste e Sahara Ocidental na lista dos territórios não-autónomos do Comité de Descolonização.

Em ambos os casos houve práticas de genocídio e outras violações graves dos direitos humanos. É sabido que Timor-Leste sofreu mais mortos, mas, por outro lado, a sua população é dez vezes superior à do Sahara Ocidental. E se, por esse facto, os saharauís são mais vulneráveis, por outro lado beneficiaram da protecção da Argélia, e muitos puderam refugiar-se na região argelina de Tindouf, junto à fronteira com o seu país. Tanto em Timor como no Sahara Ocidental, a potência ocupante praticou massacres, utilizou napalm e fósforo, provocou fome, cometeu execuções extra-judiciais, torturou indiscriminadamente, raptou crianças e levou-as para fora do território, deteve pessoas por tempo indefinido e sem culpa formada, e usou de julgamentos-farsa, com sentenças iníquas e pesadas. O ocupante praticou igualmente o genocídio cultural, proibindo o ensino das línguas locais, ilegalizando certos costumes e “transmigrando” dezenas de milhares dos seus nacionais para os territórios ocupados, tentando enfim fazer dos timorenses indonésios e dos saharauís marroquinos. E, claro, pilhou despudoradamente os recursos naturais de ambos os territórios.

TIMOR-LESTE INDEPENDENTE, EXEMPLO PARA O SAHARA OCIDENTAL

Em Timor-Leste, por terrível e dantesca que tenha sido a ocupação indonésia, ela pertence já ao passado. O mesmo não se pode dizer do Sahara Ocidental. O território continua ocupado, as violações dos direitos humanos persistem diariamente sem que a opinião pública delas tenha conhecimento. Marrocos mantém fechado o território ao escrutínio dos observadores internacionais e dos órgãos de Comunicação Social. Basta ler os últimos relatórios da Amnistia Internacional ou da Human Rights Watch para se perceber como vivem os saharauís em El Aiun e noutras zonas, como foram degradados a cidadãos de segunda no seu próprio país. As prisões continuam a abarrotar e todos os dias recebem novos detidos. Particularmente conhecida pelas condições desumanas e humilhantes em que os detidos se encontram é a chamada Prisão Negra de El Aiun. No ano de 2005 os activistas presos conseguiram fazer chegar ao mundo exterior algumas fotografias que denunciam essas condições. A resposta de Rabat foi negar os factos, sugerir que as fotografias não eram autênticas mas encenadas e, para além disso, aumentar a repressão sobre os saharauís dentro e fora das prisões.

Vários advogados espanhóis têm relatado com minúcia os atropelos ao direito, os truques mesquinhos e as falsas acusações que as autoridades administrativas e judiciais utilizam para reprimir a resistência dos saharauís e levá-los ao cárcere por longos anos. Todo o Sahara Ocidental ocupado por Marrocos é actualmente uma enorme prisão.

REFUGIADOS HÁ 35 ANOS!

É quase inacreditável que mais de 150.000 pessoas consigam sobreviver numa zona desprovida de vegetação, toda ela areia e pedras — com temperaturas elevadíssimas durante o dia e muitas vezes abaixo de zero durante a noite —, e isto durante mais de trinta e cinco anos, nos campos de Tindouf, no extremo sudoeste da Argélia, naquela ponta do território onde se encontram as fronteiras da Argélia, Marrocos, Sahara Ocidental e Mauritânia. Dependendo, para as mais básicas necessidades, como água, comida, roupa e materiais para as tendas, da ajuda humanitária da Argélia e da Europa. Os campos são visitados continuamente por representantes de organizações internacionais, por jornalistas e por activistas de direitos humanos. Todos são unânimes em reconhecer que a vida em Tindouf é extremamente dura. Mas qualquer visitante chega à mesma conclusão, quando circula livremente por entre as tendas e as pequenas casas de adobe, quando aceita o convite para tomar o tradicional chá de menta: aquele povo deseja ardentemente regressar ao seu país, mas para viver em liberdade e não sob o jugo marroquino.

A REALPOLITIK É CÚMPLICE DE MUITOS CRIMES E EXPLORAÇÃO DE RECURSOS ILEGAIS…

O porquê da indiferença dos portugueses perante o sofrimento dos saharauís está no desconhecimento — fruto do silêncio de uma grande parte dos media —, conscientes ou não da preocupação do governo de Lisboa em não importunar Rabat. Isso explica-se, por sua vez, pelos grandes interesses económicos em jogo e pela influência de Marrocos sobre muitos políticos. Numa palavra, a realpolitik.

A mesma realpolitik que Durão Barroso criticava na Austrália, por esta partilhar com a Indonésia o petróleo de Timor-Leste ilegalmente ocupado. A mesma realpolitik que ele agora como presidente da Comissão Europeia pratica, ao ter assinado com Marrocos um acordo que permite aos barcos espanhóis e portugueses pescar em águas pertencentes ao Sahara Ocidental ilegalmente ocupado. Acordo que torna a Europa e o nosso país, no dizer bem sugestivo de um eminente perito em Direito Criminal Internacional, o professor americano Roger Clark, um “receptador de bens roubados”.

Actualmente, a UE e o Reino de Marrocos estão em conversações no sentido de aprofundarem os seus laços de cooperação através da concessão do Estatuto Avançado a Marrocos mas, até agora, não tem havido qualquer menção nos relatórios das conversações sobre o que tenha sido feito para impedir que o Sahara Ocidental ocupado esteja incluído neste acordo de cooperação. Se a UE concedesse de facto o Estatuto Avançado ao Sahara Ocidental ocupado, através das suas negociações com a potência ocupante, iria dar um lamentável sinal de apoio às reivindicações infundadas de Marrocos sobre o território. E, como consequência, a UE poderia prejudicar os esforços da Organização das Nações Unidas (ONU) para a descolonização do território.

Por força do direito internacional consuetudinário, a UE e os seus Estados membros têm o dever de não reconhecer a anexação ilegal do Sahara Ocidental por Marrocos e de apoiar a descolonização do território. É também uma obrigação moral, uma vez que o povo saharauí sofre, quer no exílio quer sob a grave violação dos direitos humanos cometidos pelas forças marroquinas nos territórios ocupados do Sahara Ocidental.

A UE deve, por isso, certificar-se de forma inequívoca que o Sahara Ocidental fique excluído da aplicabilidade territorial do Estatuto Avançado, sem delegar essa responsabilidade a Marrocos. Se a UE fizer tal precisão estará a seguir o exemplo dos Estados Unidos da América, que excluíram especificamente o Sahara Ocidental do seu acordo de comércio-livre com Marrocos. Estará também a seguir o seu próprio exemplo, uma vez que excluiu os territórios palestinianos do Acordo de Associação UE-Israel.

Fica aqui um apelo à consciência dos portugueses. Que digam não ao acordo de pescas, que se recusem a comer peixe roubado aos saharauís, que exijam que o acordo que saia das conversações sobre o Estatuto Avançado especifique claramente que a sua aplicabilidade não se estenderá para sul da fronteira meridional internacionalmente reconhecida de Marrocos, ou seja, o paralelo 27 ° 40’ N. Que obriguem o governo português a tomar uma posição de defesa do direito à autodeterminação do Sahara Ocidental coerente com a que tomou em relação a Timor. Que apoiem, moral e materialmente, um país oprimido que luta pela sua libertação. Um Timor-Leste à nossa porta.

António Baptista da Silva Pedro Pinto Leite
Janeiro/2010
Fonte: infoalternativa.org

sábado, 17 de julho de 2010

Mohamed Salem Abdelfatah, "Abnu"

Ven

Ven a sentir la paz de la distancia

a contar las horas del exilio silencioso.


Ven a meditar sobre la gramática

de las hierbas secas de primavera.


Ven a sentir las caricias del siroco

en tu piel muerta.


Ven a besar el excitante polvo

de los caminos del viento.


Ven a escuchar los ecos del tiempo

en los ojos plateados de la memoria.


Ven a recordar juntos

el olor de la última lluvia.


Ven a sobar el vientre

de una cascabel grávida de palomas.


Ven a perseguir los espejismos

para saciar tu sed de vergüenza.


Ven a devorar las nuevas flores

que parió la ingratitud de las estaciones.


Ven a roer los huesos

que sobraron del banquete de la guerra.


Ven a beber el último vaso

del primer té de tu infancia.


Ven a escalar las alturas

de la añoranza perdida.


Ven a permutar tus dientes de leche

por los colmillos de la serpiente noctámbula.


Ven a mirarte el triste rostro

en el espejo de una mañana olvidada.


Ven con tus penas

Ven, incluso, con tus glorias.


Ven a llorar

sobre la tumba de una madre

que llora eternamente

para que tú derrames una lágrima.


Mohamed Salem Abdelfatah,"Abnu" (Poeta Saharaui)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Poema Saharaui

¡Basta!. Las calles enfurecidas
se alzan y comentan
las grandes injurias.

¡Basta!. Las casas pululan
de rabia desmesurada.

Y, ¡basta!, porque hay
un anhelo que ya no espera más.

En estos tiempos ya no
quedan enfados que calmar
y, desde el corazón del oprimido
se exalta la rabia contenida.

Las ciudades del Sáhara sombrío
se levantan una vez más,
para gritar orgullosas:
¡Basta!. ¡Basta!. ¡Basta!.

Chejdan Mahmud Yazid (Poeta Saharaui)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

John Stuart Mill


"Que a humanidade não seja infalível, que suas verdades, em sua maioria, sejam apenas meias-verdade, que não é desejável a unidade de opinião, salvo quando resultante da mais completa e livre comparação entre opiniões opostas, e que a diversidade não representará um mal, mas um bem, até os homens serem mais capazes do que hoje de reconhecer todos os lados da questão, constituem princípios aplicáveis aos modos de ação do homem, não menos que às suas opiniões.” John Stuart Mill(Londres, 20 de Maio de 1806 — Avinhão, 8 de Maio de 1873)Filósofo e economista inglês, e um dos pensadores liberais mais influentes do século XIX.
Aminetu Haidar - Um testemunho de dignidade e de luta pela Justiça e os Direitos Humanos no Sahara Ocidental
Carmelo Ramírez (*)
(artigo de Opinião publicado no periódico “CANARIAS7” (http://www.canarias7.es/articulo.cfm?Id=156588)
Las Palmas de Gran Canaria

A greve de fome levada a cabo por Aminetu Haidar no aeroporto de Guacimeta, na ilha canária de Lanzarote, durante 32 dias, depois da sua expulsão ilegal pelo Governo de Marrocos de El Aaiun no passado dia 14 de Novembro de 2009, colocou no centro das atenções a nível internacional o conflito do Sahara Ocidental, a última das colónias africanas por descolonizar.

Ao longo dos 32 dias de greve os diferentes meios de comunicação fizeram luz sobre a dramática situação que sofre este povo desde há 34 anos, data em que foi firmado o Acordo Tripartido de Madrid, através do qual, o Governo de Espanha, atraiçoando o Povo Saharaui, permitiu a ilegal ocupação militar do Sahara Ocidental pelos exércitos de Marrocos e da Mauritânia.

Durante estes 32 dias, os meios de comunicação puseram em relevo o seguinte:

— O Governo de Marrocos impõe seus critérios e seus caprichos no Sahara Ocidental, com a permissividade dos organismos internacionais (ONU e UE) e das grandes potências (França, EUA., Espanha …). Um exemplo claro foi a expulsão ilegal de Aminetu Haidar do Aeroporto de El Aaiun para Lanzarote, em contravenção com as Leis Internacionais de Liberdade de movimento das pessoas e confiscando o seu passaporte, acto inadmissível num Estado de Direito.

— O Governo de Marrocos viola sistematicamente e de maneira permanente os Direitos Humanos no Sahara Ocidental, reprimindo a população Saharaui e impondo um clima de medo e de terror. Estas violações, denunciadas por organismos internacionais e organizações defensoras dos Direitos Humanos, materializam-se em encarceramentos dos activistas saharauis, torturas, ameaças e roubo e destruição de casas e pertences, violações de homens e mulheres, espancamento e abandono em locais desabitados ou aterros, pressão sobre crianças e jovens e um muito longo etc…

— Actualmente, Marrocos detém encarcerados 60 defensores saharauis de Direitos Humanos e a 7 deles aplicou a jurisdição militar, o que significa que podem ser condenados à morte ou a pesadas condenações, sem terem cometido qualquer tipo de delito.

— O Governo de Marrocos impede o acesso aos Territórios Ocupados a observadores internacionais para verificar as violações dos Direitos Humanos e obstaculiza o trabalho das delegações oficiais, como é o caso da Comissão Ad Hoc do Parlamento Europeu, cujo informe ainda não foi publicado apesar da visita se ter efectuado nos primeiros meses do ano de 2009.

— A espoliação das riquezas naturais do Sahara Ocidental, sejam os recursos pesqueiros, os fosfatos, a areia ou os minerais, é uma constante que o Governo de Marrocos vem realizando há décadas, violando com essa exploração os direitos do povo saharaui, detentor desses recursos, segundo o parecer jurídico Corell das Nações Unidas de 2002.

— O Governo de Marrocos impede a celebração do Referendo de Autodeterminação, com todas as opções acordadas (nota: integração, autonomia e independência), ludibriando as resoluções do Conselho de Segurança da ONU e impondo uma situação de ocupação de facto, absolutamente ilegítima e ilegal.

A greve de fome de Aminetu Haidar teve a virtude de mobilizar a opinião pública internacional, instituições como a ONU ou a União Europeia, Governos, organizações políticas e sindicais, instituições Locais e Regionais, colectivos de todo tipo, a personalidades como prémios Nóbel, actores e actrizes, cantores, escritores e intelectuais de todo o mundo, alarmados pelo seu estado de saúde e pela situação da população saharaui que sofre directamente a repressão do Governo de Marrocos.

O extraordinário desta acção foi ter conseguido converter um acontecimento pontual de dimensões reduzidas, como foi a ilegal expulsão de el Aaiun, num acontecimento de dimensão internacional, com um impacte mediático inimaginável, que colocou o dossiê do Sahara Ocidental na primeira linha durante os 32 dias de greve de fome, desmascarando a verdadeira natureza do regime marroquino, absolutamente antidemocrático, de cariz medieval, e que não hesita em aplicar a violência e o terror sobre una população civil indefesa e isolada.

Em que contexto se desenvolveu esta greve de fome?

•Em primeiro lugar, num contexto de escalada brutal na repressão dos Direitos Humanos sobre a população saharaui por parte do Governo de Marrocos, que se traduz em factos como:
— Os recentes e reiterados discursos do Rei Mohamed VI, chamando traidores “aos que não defendam a integridade territorial”.

— A aplicação da Jurisdição Militar aos 7 activistas saharauis detidos em Casablanca, acusados de traição e que podem ser condenados à morte, sem terem cometido delito de qualquer espécie.

— A confiscação de documentos de viagem, passaportes, aos activistas saharauis para impedir a sua liberdade de movimentos, para que, assim, não possam sair para o exterior.

— O incremento da repressão nos territórios ocupados com prisões, torturas, espancamentos e detenções arbitrárias de activistas saharauis.

•Em segundo lugar, no bloqueio à celebração do Referendo de Autodeterminação que possibilite ao Povo Saharaui decidir o seu futuro livremente e com todas as garantias democráticas. Este incumprimento por parte do Governo de Marrocos das resoluções da ONU de maneira reiterada e permanente coloca a região do Magreb numa perigosa encruzilhada se a Comunidade Internacional não pressionar o Governo Marroquino e lhe imponha o cumprimento da realização do Referendo de Autodeterminação e o termo da violação dos Direitos Humanos.
•Em terceiro lugar, o Governo de Marrocos trata de impor como “única saída possível” um estatuto de Autonomia para o Sahara Ocidental. Esta fórmula altera a natureza do conflito já que se trata de um assunto de descolonização e implica a aceitação de antemão da soberania marroquina do território. Esta proposta não foi aceite pela ONU nem pela Comunidade Internacional, à excepção da França. Apesar disso, o Governo de Marrocos mobilizou os seus lobbistas para fazerem propaganda da mesma, como “a única solução real para o conflito”. As opiniões e artigos de gente como Felipe González, Moratinos, Duran i LLeida, Olarte, Máximo Cajal ou Arístegui fazem parte desta estratégia marroquina de justificar a anexação unilateral e ilegal do território do Sahara Ocidental.
•Em quarto lugar, o Governo de Marrocos socorre-se de temas sensíveis como o terrorismo, a emigração irregular ou o tráfico de drogas para vender-se aos países da Europa e Estados Unidos como o guardião do Norte de África e o garante da segurança. Em troca, pede apoio na ocupação do Sahara, acordos económicos e a “homologação democrática e progressista” da sua acção de governo.
•Toda esta estratégia medida, calculada, planificada pelo regime marroquino foi posta em causa com a Greve de Fome de Aminetu Haidar. O triunfo da greve, com o seu regresso sem condições a El Aaiun, acaba com o mito da impunidade do rei marroquino e do seu autoritarismo.
O papel jogado pela Espanha neste conflito foi contraditório:

— Por um lado, foi exemplar a reacção da sociedade espanhola, suas organizações sociais, de solidariedade, partidos políticos, sindicatos, instituições locais e regionais, personalidades do mundo do cinema, da cultura, da arte, da música, da informação, etc. que apoiaram Aminetu Haidar nos seus 32 dias de greve, deslocaram-se a Lanzarote e impulsionaram mobilizações de todo tipo em toda a geografia espanhola.

— Por outro lado, foi lamentável o papel jogado pelo Governo, ao serviço da estratégia marroquina, colaborando na expulsão de Marrocos, oferecendo fórmulas como a nacionalidade ou o estatuto de refugiada política que condenavam Aminetu a nunca mais regressar a El Aaiun, permitindo que os ministros marroquinos lançassem ameaças contra a sociedade espanhola no nosso próprio território e evitando a todo o momento condenar a violação dos Direitos Humanos pelo Governo de Marrocos.

O Governo de França, por seu lado, justificou e defendeu as acções de Marrocos sem se importar nada com a violação dos Direitos Humanos ou o incumprimento dos acordos da ONU. Além disso, reiterou a sua posição de defesa da autonomia marroquina do Sahara Ocidental vulnerando os acordos internacionais e os direitos do Povo Saharaui.

O regresso de Aminetu a sua casa afirma o triunfo da dignidade, da tenacidade desta mulher sobre a manipulação, a violência e a intolerância do regime marroquino.

Como foi possível este triunfo? Como é que um a mulher só e indefesa conseguiu vergar uma ditadura tão feroz como a que representa o Governo de Marrocos e o seu Rei?

Há que considerar algumas questões:

1) Tanto o Governo de Marrocos como o de Espanha não calcularam a integridade e a capacidade de luta de Aminetu Haidar, uma mulher de forte personalidade, de sólidos princípios, forjada na adversidade, que sofreu no cárcere todo o tipo de torturas e humilhações, mas que jamais se dobrou à tirania que representa o Rei de Marrocos.

2) Aminetu Haidar é uma militante, activista pelo respeito aos Direitos Humanos do seu povo, lutadora pelo Direito de Autodeterminação do Povo Saharaui, que decidiu consagrar a sua vida à luta por esses princípios, que ama profundamente o seu povo e que sofre na sua própria carne o opróbrio, as humilhações e os abusos que o Governo de Marrocos realiza no Sahara Ocidental. Arriscar a sua vida com a greve de fome é um acto de valentia e de determinação ante a intransigência marroquina e a permissividade da ONU e da União Europeia.

3) Os 34 anos de luta do povo saharaui, da RASD, da Frente Polisario e do Movimento de Solidariedade criaram um estado de opinião latente que se mobilizou com a greve de fome e que se manteve militantemente durante os 32 dias, com iniciativas, acções, mobilizações e declarações em todos os lugares e meios sociais, territoriais e institucionais. E essa onda de mobilização e solidariedade voltará, talvez ainda com maior força e vigor, caso Marrocos continue com a política de factos consumados.

4) A plataforma de apoio a Aminetu Haidar, que acompanhou os 32 dias de greve, jogou também um papel muito importante na mobilização da opinião pública e em levar mediaticamente o tema a todos os lugares do planeta.

O grupo de meios de comunicação e de jornalistas jogou um papel chave neste conflito e opôs-se às campanhas de intoxicação do Rei de Marrocos e seus Ministros.

5) A causa saharaui é a causa da justiça, da defesa dos interesses dum povo indefeso, que sofre desde há 34 anos a repressão marroquina. É a causa dos fracos e desapossados, da defesa dos Direitos Humanos, da legalidade internacional e da aspiração deste povo a viver livremente num território que lhe pertence e que lhe foi arrebatado pela violência. Estes princípios éticos conseguiram convencer a opinião pública mundial ao identificar-se com Aminetu Haidar e com a sua greve de fome.

Este é o triunfo da ética e da razão sobre a hipocrisia e a mentira.

6) Também a imagem de uma mulher, débil e indefesa, vítima da brutalidade do Estado Marroquino, que através de métodos pacíficos como a greve de fome, reivindica o seu direito a regressar a sua casa e a juntar-se aos seus filhos teve um enorme impacte na consciência social, na opinião pública, contribuindo decisivamente para a sua mobilização. Tudo isto, juntamente com a dimensão internacional de Aminetu, reiteradamente galardoada pela sua defesa dos Direitos Humanos no Sahara Ocidental.

Transcorrido mais de um mês desde o termo da greve de fome e o regresso de Aminetu a El Aaiun o Governo de Marrocos continua a persistir na sua falhada estratégia:

— A policia sitiou a casa de Aminetu, impedindo a sua liberdade de movimento e o acesso dos saharauis para a saudarem.

— Continua o comportamento brutal do Governo de Marrocos: repressão, espancamentos, detenções e torturas à população civil saharaui.

— Impede a celebração do Referendo de Autodeterminação e continua a querer impor o seu requentado estatuto de autonomia para a região.

— Confisca os documentos de viagem e os passaportes aos activistas de Direitos Humanos, assim como nega a renovação dos mesmos, procurando impedir a sua saída do território.

— Ameaça aplicar com dureza máxima a legislação militar aos 7 encarcerados de Casablanca (nota: Idagja Lachgare, a única mulher do grupo, foi posta em liberdade condicional dado o seu precário estado de saúde físico e mental).

— Impede o acesso ao território a observadores internacionais e organizações defensoras dos Direitos Humanos.

— Trata de conseguir contrapartidas políticas e económicas com a União Europeia e com os Estados Unidos.

Ante tudo isto, e depois de 34 anos, há que continuar a afirmar que a única solução estável, duradoura e pacífica passa por duas questões absolutamente inegociáveis e irrenunciáveis:

1) O exercício pelo Povo Saharaui do Referendo de Autodeterminação, livre e democrático, que possibilite a sua opção a conseguir um Estado livre e independente.

2) O fim imediato da violação dos Direitos Humanos por parte do Governo de Marrocos no Sahara Ocidental com a liberdade para todos os presos políticos saharauis e o esclarecimento sobre o paradeiro dos desaparecidos, assim como o termo da espoliação das riquezas naturais do território.

Qualquer outra fórmula que se afaste destas posições situa-se à margem da legalidade internacional e estará condenada ao fracasso.

O triunfo de Aminetu Haidar é o triunfo de todo o povo saharaui, é a homenagem aos mártires que desapareceram lutando por estas ideias, é a convicção de que com militantes da talha moral de Aminetu e dos activistas que estão nos cárceres de Marrocos, o Povo Saharaui, a Frente Polisario, alcançará a sua independência e a sua liberdade, mais cedo do que tarde. O regresso de Aminetu Haidar a El Aaiun trouxe a esperança a todo o povo saharaui e reforçou a convicção de que existe um antes e depois desta vitória extraordinária de justiça, ética e direitos inalienáveis do povo saharaui.

5 de Fevereiro de 2010

(*) Carmelo Ramírez Marrero


Presidente da Federación Estatal de Instituciones Solidarias con el Sáhara (FEDISSAH)

Artigo traduzido e divulgado pela


Associação de Amizade Portugal – Sahara Ocidental
FRANÇA DE VICHY - O GOVERNO DA DESONRA DE UMA NAÇÃO

Por JEOCAZ LEE-MEDDI - Escritor


Em 1939 os exércitos de Hitler invadiram a Polônia, tendo como conseqüência a deflagração da Segunda Guerra Mundial. Inglaterra e França foram as primeiras nações a declarar guerra à Alemanha. Menos de um ano depois, o exercito francês foi capitulado, obrigando à redenção total da França ante ao regime nazista.
Humilhada, a França, através do marechal Philippe Pétain, assinou o acordo de rendição à Alemanha, sendo dividida em duas zonas principais: ocupada e não ocupada. A chamada França ocupada, que consistia na parte norte e ocidental, toda a costa do Atlântico Norte e a capital Paris, passou a ser controlada diretamente pelo regime nazista; o restante do território seria administrado por um suposto regime livre, liderado por Pétain, com capital na cidade de Vichy. Surgia o Estado Francês, vulgarmente chamado de França de Vichy, ou República de Vichy.
O período em que a França livre foi governada da cidade de Vichy durou de 1940 a 1944, sendo um dos mais obscuros da história do país. Pétain construiu um regime colaboracionista com os nazistas, movido pela direita conservadora e moralista. Durante quatro anos, as Milícias de Vichy prenderam cidadãos que se opunham ao regime, fuzilou suas lideranças, entregou os judeus franceses aos alemães, além de adotar a política nazista da segregação racial, enviando ciganos, prostitutas, indigentes, homossexuais e outras minorias para os campos de concentração. Também a eugenia fez parte desse regime de exceção do Estado Francês.
Na contramão da França de Vichy surgiu a Resistência Francesa, movimento liderado por oponentes idealista, que com operações logísticas de inteligência de guerra, sabotavam, combatiam e lutavam por um país livre da ocupação nazista e do regime infame governado por Pétain.
O regime da França de Vichy só se extinguiu com a chegada das forças Aliadas ao país, a libertação da opressão nazista e o fim da Segunda Guerra Mundial. Passou para a história como o momento mais vergonhoso do povo francês. Ainda hoje historiadores dividem-se sobre o período, alguns acham um mal necessário, com a população a pagar os custos da invasão às tropas alemãs, evitando que os franceses deixassem o país. Outros acham que melhor teria sido não aceitar tão humilhante regime imposto pelos nazistas, e sim deixar o continente, formando um exército de resistência no Norte da África, nas então colônias francesas daquele continente. Por trás da França de Vichy estavam os franceses que sustentavam a idéia de uma França de raça pura e de ideais nacionalistas próximos às ditaduras de Franco, da Espanha, e do próprio Hitler, da Alemanha nazista. Colaboracionismo, racismo, perseguições e fuzilamentos marcaram com uma grande nódoa a história da França, fazendo da República de Vichy um momento de humilhação e vergonha do povo francês.

A França é Capitulada pelos Alemães

O governo nazista de Adolf Hitler propunha a elevação e expansão da Alemanha, transformando-a na maior potência da Europa e do mundo. A ideologia nacionalista do governo do Terceiro Reich procurava devolver ao povo alemão a alto-estima perdida após a derrota sofrida na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Em 1938, com o consentimento do povo austríaco, Hitler anexou a Áustria à Alemanha. No mesmo ano, reivindicou a integração dos Sudetos, região montanhosa da antiga Tchecoslováquia, habitada por minorias germânicas. Diante da ameaça expansionista nazista, foi realizada uma conferência internacional em Munique, onde a França e a Inglaterra cederam às intenções dos alemães, permitindo a anexação dos Sudetos.
Mas os objetivos expansionistas da Alemanha não pararam. Em 1 de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia, derrotando as tropas polacas em um mês. A parte oriental da Polônia foi ocupada pela União Soviética, no cumprimento do acordo Ribbentrop-Molotov, assinado entre as duas nações. Desta vez, França e Grã-Bretanha opuseram-se a esta invasão, declarando guerra à Alemanha. Iniciava-se o maior conflito da humanidade, a Segunda Guerra Mundial.
A guerra entre a Alemanha e França foi considerada como uma falsa demonstração de poder, visto que o exército francês estava aquém das forças do Reich. Numa guerra relâmpago, os franceses seriam capitulados em poucos meses. Em 10 de maio de 1940 começou a ofensiva alemã contra os exércitos franceses, dando início à Batalha de França. Em poucos dias, a Holanda e a Bélgica sucumbiriam às forças nazistas. Em 20 de maio, o primeiro ministro francês, Paul Reynaud, demitiu o general Gamelin, nomeando o general Weygand para que traçasse a estratégia e medidas contra o cerco alemão. A partir de 23 de maio, as cidades portuárias da região de Calais foram sucumbindo uma a uma, ao exército de Hitler. A ofensiva prosseguiu rumo a Paris. Em 5 de junho, o exército francês comandado por Weygand foi derrotado. Em 10 de junho, a Itália, aliada da Alemanha, declarou guerra à França. Em 14 de junho, os alemães tomaram Paris. Em fuga, o governo francês transferiu-se para Bordéus, à espera da ajuda dos aliados britânicos.
Após a queda de Paris, o marechal Philippe Pétain anunciou publicamente, através do rádio, em 17 de junho, que a França proporia um armistício, com a intenção de render-se aos alemães. O primeiro-ministro Reynaud, recusou-se a assinar a rendição, demitindo-se do cargo. Em 22 de junho de 1940, o marechal Pétain, que assumiu o lugar de Reynaud, assinou o armistício com a Alemanha, após a rendição do Segundo Grupo do Exército Francês, entrando em vigor em 25 de junho. Ironicamente, a rendição oficial, foi dada em Compiègne, no mesmo trem que a Alemanha, em 1918, ao fim da Primeira Guerra Mundial, fora obrigada a render-se. Imagens do marechal Pétain a apertar a mão de Adolf Hitler tornam-se símbolos da propoganda nazista, sendo divulgadas pelo mundo inteiro. Estava concretizada a maior vitória dos exércitos do Terceiro Reich durante a Segunda Guerra Mundial.

Criada a França de Vichy

Com a ocupação da França pelos nazistas, não só a situação política-administrativa do país foi alterada, como também a sua geografia. No mapa da Europa, a França foi dividida em três partes: a França de Vichy, formada pelo centro-sul do país, com o governo entregue ao marechal Pétain, com centro administrativo a partir da cidade de Vichy, na França central, sendo ali exercido um governo colaboracionista com os nazistas, com forte orientação fascista. A França Ocupada, formada pelo norte e pela costa atlântica francesa, incluindo a capital, Paris; sendo uma zona comandada diretamente pelas autoridades militares germânicas. Finalmente, a terceira parte, os territórios da Alsácia-Lorena, foi anexada à Alemanha, tornando-se parte do território daquele país.
A divisão da França pôs fim à Terceira República Francesa (1870-1940). Na França de Vichy, Paris continuou a ser a capital oficial, embora não o fosse administrativamente. Philippe Pétain era, em 1940, um velho herói da Primeira Guerra Mundial. Durante o tempo que governou de Vichy, prometeu sempre devolver a administração a Paris, assim que o fosse possível fazer.
O governo de Vichy apresentava-se como um regime de neutralidade à guerra, mas na prática colaborava ativamente com o governo de Hitler. O termo “República Francesa” foi substituído por “Estado Francês”. Para garantir o regime, em 10 de julho de 1940, Pétain conclamou a França de Vichy, através de uma Assembléia Nacional, deixando de ser o último primeiro-ministro da Terceira República, transformando-se no chefe do Estado Francês, obtendo amplos poderes no novo cargo.
O regime de Vichy na verdade governava à sombra das diretrizes de Berlim. Não administrava apenas a considerada zona livre do sul da França, a sua jurisdição estendia-se ao longo de toda a França metropolitana, com exceção da Alsácia-Lorena, território que se tornou parte da Alemanha.
Quando as forças Aliadas desembarcaram no Norte da África, os alemães desencadearam a Operação Processo Anton, em 11 de novembro de 1942, ocupando o sul da França, zona considerada neutra e livre. O regime de Vichy continuou a exercer jurisdição sobre quase toda a França, apesar de ter os poderes diminuídos. A partir de então, a colaboração com os nazistas tornou-se mais intensificada, sendo adotados claramente as suas políticas raciais. O marechal Pétain tornou-se chefe de um Estado com um programa político reacionário, ao qual chamou de “Revolução Nacional”, que se proclamava como regenerador da nação.

A Política Racial do Regime de Vichy

O regime de Vichy tornou-se autoritário, que não só aceitou a ocupação alemã, como assimilou várias facetas da sua ideologia. Sustentava-se no poder pelo regime de Hitler, pelo medo e opressão à população, garantidos pela terrível polícia do Estado, a Milícia (Milice).
Temida pelos franceses, a Milícia garantia a face repressiva e racial do regime. Capturava os indesejáveis pelos alemães, tanto na parte norte, como no sul do país, prendendo-os, fuzilando-os ou simplesmente entregando-os aos alemães, para que fossem enviados para campos de concentração nazistas. Membros da Resistência e judeus eram os seus alvos favoritos.
Sob o comando do marechal Pétain, o regime de Vichy tomou medidas drásticas e de caráter repressivo contra diversas etnias e setores da sociedade francesa. Imitando a política vergonhosa de perseguição racial, começou uma caça aos imigrantes, chamados de métèques, aos judeus, maçons, ciganos, homossexuais, comunistas e outras minorias.
Já em julho de 1940, tão logo o regime foi implantado, foi criada uma comissão para rever a lei da nacionalidade de 1927, que concedera a cidadania francesa a vários estrangeiros, em especial aos judeus vindos do leste europeu na década de 1930, fugindo da perseguição do regime nazista. Iniciou-se o processo de desnaturalização que, de 1940 a 1944, tempo que durou a França de Vichy, atingiu mais de quinze mil pessoas, sendo os judeus os mais atingidos.
Em outubro de 1940, foi editado um decreto que autorizava a internação dos judeus em campos de concentração franceses, abertos durante a Terceira República, e que serviriam de trânsito para a execução do Holocausto. Após passar pelos campos franceses, todos os deportados eram enviados para os campos nazistas do leste europeu. Além dos judeus, os ciganos foram os principais remetidos para os campos de extermínios. Camp Gurs era o principal local de internamento de presos, construído antes da Segunda Guerra Mundial. Em 1940 recebeu o primeiro contingente de prisioneiros daquela guerra, que incluía anarquistas, comunistas, sindicalistas e antimilitaristas. Com a implantação do regime de Vichy, vários outros campos de concentração foram abertos em solo francês, sendo o primeiro deles o de Aincourt, em Seine-et-Oise. O Camp des Milles, próximo a Aix-en-Provence, foi o maior campo de concentração do sudeste francês, sendo de lá deportados cerca de 2.500 judeus. Na Alsácia, os alemães abriram o campo de Natzweiller, que incluía uma câmera de gás, utilizada para executar aproximadamente 86 prisioneiros, sendo a maioria judeus.
Com a perda da nacionalidade, os judeus passaram a ser classificados como “Grupos de Trabalhadores Estrangeiros”. Passaram a ter que usar um distintivo amarelo, sendo excluídos da administração civil. O regime de Vichy permitiu o uso da eugenia como programa destinado para preservar o francês de raça pura. Felizmente, o programa não foi tão longe quanto o seu similar desenvolvido pelos nazistas.

A Resistência Francesa

Após a assinatura do armistício em Compiègne, que aceitava a invasão da França pelos nazistas e a sua divisão administrativa; vários setores da sociedade francesa opuseram-se à submissão do seu país. Iniciava-se uma resistência ao regime colaboracionista de Vichy e à ocupação germânica. Grupos vindos de todas as camadas sociais francesas, desde os comunistas, judeus, anarquistas, sacerdotes, católicos conservadores, liberais, jornalistas; uniram-se para dar corpo ao que ficou conhecido com Resistência Francesa.
Após a ocupação alemã, grande parte da população francesa manteve-se neutra, procurando continuar a vida sem manifestação contrária ou favorável àquela situação. O regime de Vichy mostrou-se autoritário, espelhado nos governos fascistas, iniciando uma repressão violenta aos que se opunham a ele e aos alemães. A opressão passou a gerar um número pequeno de patriotas descontentes. O envolvimento sentimental das mulheres francesas com os ocupantes alemães causou a repulsa dos homens, ofendendo-lhes a honra. A desvalorização da moeda francesa diante da alemã permitiu que os nazistas usufruíssem os privilégios econômicos, enquanto que os franceses mergulhavam em grande miséria, causada por uma galopante inflação e escassez de alimentos. Crianças e idosos sofriam com a desnutrição, combalindo diante da fome. Milhares de trabalhadores franceses foram transferidos para trabalhar na indústria alemã, em plena ascensão, enquanto que as fábricas francesas entravam em colapso, trazendo um grande desemprego. Todos estes fatores, aliados ao patriotismo e à falta de liberdade civil, com toques de recolher à noite e a repressão política durante o dia, levaram à revolta, passiva ou ativa, da população francesa.
O Estado Francês, dirigido pelo marechal Pétain, extinguiu os partidos, os sindicatos, a liberdade da imprensa, com perseguições e prisões de líderes políticos. O descontentamento não era somente com os invasores germânicos,
mas com o governo reacionário de Pétain e dos seus aliados, que se mostrava opressivo e sem honra diante da colaboração com os nazistas, a quem se havia declarado guerra em 3 de setembro de 1939. A situação forçou a união de vários grupos de movimentos de resistência. Seus membros passaram a ser chamados de partisons (partidários), desenvolvendo um esquema de inteligência logística contra os inimigos, alemães ou franceses colaboracionistas.
Os núcleos de resistência passaram a existir desde a capitulação da França pelos alemães, em junho de 1940, e da instauração do regime de Vichy, visto por líderes políticos como vergonhoso. Estudantes universitários que se proclamavam revolucionários, criaram o jornal “Resistência”. Ainda naquele ano fatídico de 1940, a Resistência teve as suas lideranças iniciais levadas prisioneiras ao campo de concentração de Camp Gurs, entre eles, os comunistas, estudantes, sindicalistas e líderes de esquerda em geral.
Com o passar do tempo, um maior número de pessoas uniram-se aos grupos de resistência. No norte, ocupado e governado diretamente por autoridades militares do Terceiro Reich, surgiram, entre 1941 e 1942, a Organization Civile et Militaire e o Liberation-Nord. Desenvolviam táticas de guerrilhas, logísticas de inteligência e sabotagem aos governantes e às polícias de Estado, e aos alemães invasores. No sul, até 1942, a Resistência concentrava as suas ações na propaganda, visto que era zona não ocupada pelos alemães. Quando os territórios do sul foram ocupados, mudaram de tática. No sul a intensidade da Resistência era menor, uma vez que a sua população conservadora apoiava, na maioria, o governo do marechal Pétain. Apenas os adeptos da esquerda aderiam à Resistência.
Até 1941, a Resistência centrava as ações em atividades clandestinas e lutas de guerrilha. A partir daquele ano, em outubro, passaram a receber apoio das forças Aliadas, quando o governo britânico decidiu ajudar, criando em Londres o Bureau Central de Renseignements et d’Action (BCRA), comandado pelo coronel Dewaurin.
A Resistência passou a usar a Cruz de Lorena como símbolo da França livre. Pequenos grupos de homens e mulheres armados desenvolviam as ações contra os inimigos através das zonas rurais, passando a ser chamados de maquis.
Diante do crescimento logístico dos grupos de resistência, o governo do marechal Pétain passou a combatê-los com uma intensa repressão. Inúmeros comunistas passaram a ser cassados pela Milícia. Em agosto de 1941, em represália à Resistência, foram estabelecidos os métodos de punição coletiva, que tomava reféns entre a população, que passavam a ser fuzilados a cada investida dos rebeldes. No decurso do regime de Vichy e da ocupação alemã, cerca de trinta mil franceses foram fuzilados como reféns em represália aos atos da resistência. Algumas aldeias, como Oradour-sur-Glane, foram destruídas pelos alemães, tendo a população massacrada, como uma resposta às atividades da Resistência ao redor. Em Lyon, o movimento de resistência Franc-Tireur, nascido em torno de alguns jornalistas, teve o seu maior líder, Marc Bloch, assassinado pelos nazistas.
A Milícia, formada por um grupo de paramilitares, foi criada no início de 1943, para combater a Resistência, e dar apoio às tropas alemãs, que desde 1942, estavam espalhadas por todo o território francês. A Milícia tornou-se uma espécie de Gestapo francesa, colaborando estreitamente com os nazistas. Tornou-se temida pela população, por usar métodos brutais de tortura e executar sumariamente a todos que suspeitassem pertencer à Resistência. Os temidos miliciens só encerrariam as suas atividades após a libertação da França pelos Aliados, em 1944. Na ocasião, grande parte da polícia terrorista do regime de Vichy foi condenada por colaboracionismo e executada. Muitos fugiram para a Alemanha, sendo incorporados na divisão do Charlemagne da Waffen-SS.
A atuação da Resistência Francesa foi de grande importância aos Aliados durante a invasão da Normandia, em 6 de junho de 1944. Foram eles que conduziram as forças Aliadas através da França, passando informações militares sobre os inimigos, além de proporcionar sabotagens nas telecomunicações, transportes e energia que abasteciam os alemães invasores. Ao lado dos Aliados, formaram unidades chamadas de Forças Francesas do Interior (FFI). As FFI reuniam em junho de 1944, cerca de cem mil membros, crescendo rapidamente, atingido o número de quatrocentos mil combatentes até outubro daquele ano.
A Resistência Francesa foi fundamental para que a França não morresse moral e politicamente durante a ocupação nazista e a duração do regime de Vichy. Gerou vários heróis, como o mítico Jean Moulin, morto pela Gestapo em 1943. Com o fim da França de Vichy, a Resistência Francesa floriu como o único motivo de orgulho e honra do povo francês durante o mais obscuro dos períodos da sua história, em que a colaboração com os nazistas trouxe desconforto e humilhação diante do mundo.

Jean Moulin, o Herói da Resistência

Se o general Charles De Gaulle é o herói vencedor da opressão nazista sobre a França, o seu libertador invencível; Jean Moulin é o herói mártir, símbolo daqueles que resistindo dentro de uma França colaboracionista, pagaram com a vida o direito de lutar pela liberdade.
Jean Moulin é a própria imagem do galã frágil e sensível, mas decidido a cumprir o seu destino trágico, mas heróico, em nome do seu país, do fim da opressão e pela liberdade de ir de vir. Tornou-se o maior símbolo da Resistência Francesa durante a Segunda Guerra Mundial.
Nasceu em Béziers, sudeste da França, próximo do mar Mediterrâneo, no fim do século XIX, em 20 de junho de 1899.
Na juventude, alistou-se no exército francês, em 1918, para lutar pelo seu país na Primeira Guerra Mundial. Com o fim da guerra, voltou aos estudos, licenciando-se em Direito, em 1924.
Muito cedo Jean Moulin deixou-se enveredar pela carreira administrativa. Em 1922 iniciava uma brilhante carreira política, exercendo o cargo de chefe de gabinete de deputado em Sabóia. De 1925 a 1930, tornou-se subprefeito de Albertville, sendo o mais jovem francês a exercer o cargo.
A vida de Jean Moulin sempre foi marcada pela ideologia política. Sua vida amorosa é menor diante da sua luta ideológica. Casou-se uma vez, em setembro de 1926, com Marguerite Cerruti, de quem se iria divorciar dois anos mais tarde, em 1928.
Durante a Guerra Civil Espanhola, Jean Moulin ajudou as forças de esquerda que lutavam contra o general Francisco Franco. As versões da participação de Jean Moulin neste período divergem, trazendo dados obscuros. Alguns historiadores acreditam que ele forneceu armas soviéticas para os espanhóis, mas a versão mais aceita é de que, de dentro do Ministério da Aviação, ofereceu aviões franceses aos que lutavam contra o fascismo na Espanha.
Além da vertente política, Jean Moulin era um exímio ilustrador e caricaturista. No início da década de 1930 chamou a atenção pelas caricaturas políticas que publicou no jornal “Le Rire”, usando o pseudônimo de Romanin. Ilustrou o livro do poeta Tristan Corbière.
Em janeiro de 1937, nomeado para o departamento de Aveyron, tornou-se o mais jovem prefeito da França. Em 1939 foi nomeado prefeito do departamento de Eure-et-Loire. Quando exercia o cargo, foi apanhado pela invasão dos alemães ao seu país. Logo no início, em 1940, foi preso pelos nazistas por recusar a colaborar com os invasores, não assinando falsos documentos por eles propostos. A sensibilidade de Jean Moulin foi rompida pela perda da liberdade. Desesperado, ele tentou o suicídio na prisão, cortando a garganta com um pedaço de vidro. A tentativa deixou-lhe uma cicatriz indelével, que sempre escondia com um cachecol. A imagem sensível, de galã romântico, com o pescoço coberto por um cachecol, tornou-se a mais conhecida através das décadas, chegando intacta aos tempos atuais.
Após a implantação do regime de Vichy, o governo colaboracionista ordenou que todos os prefeitos de esquerda, eleitos nas cidades e aldeias francesas fossem demitidos. Recusando a cumprir a ordem, Jean Moulin foi removido do próprio escritório. Foi então que entrou para a Resistência Francesa.
Em setembro de 1941, usando o nome de Jean Joseph Mercier, partiu para a Inglaterra, encontrando-se com o general Charles De Gaulle. Em Londres, De Gaulle encarregou-o de unificar os movimentos de resistência contra a invasão nazista na França, sendo nomeado delegado da zona não ocupada francesa, tendo o apoio do comitê de Londres. No início de 1942, Jean Moulin reuniu-se com membros da Resistência, dando início à missão delegada por De Gaulle.
De volta a Londres, em fevereiro de 1943, foi encarregado de uma nova missão, formar o Conselho Nacional da Resistência (CNR). A primeira reunião do CNR aconteceria em Paris, em 27 de maio de 1943, tendo Jean Moulin como presidente.
Em 21 de junho de 1943, no primeiro dia do verão, e um dia após ter completado 44 anos de idade, Jean Moulin e vários líderes da Resistência foram presos em Caluire-et-Cuire, um subúrbio de Lyon. Uma versão sobre a prisão de Jean Moulin aponta para uma possível traição de René Hardy, que foi capturado e libertado pela Gestapo. Outros historiadores acreditam que René Hardy, ao ser seguido pelos alemães, foi simplesmente imprudente.
Em Lyon, Jean Moulin foi interrogado pelo chefe da Gestapo, Klaus Barbie, sendo levado mais tarde para Paris. Mesmo sob tortura, o líder da Resistência não revelou nenhum segredo aos alemães. Durante a transferência para a Alemanha, Jean Moulin morreu perto de Metz, no dia 8 de julho de 1943. Provavelmente devido aos ferimentos sofridos pela tortura. Mais tarde, Klaus Barbie alegaria que o herói da Resistência Francesa teria morrido pelas próprias mãos, em uma tentativa de suicídio. Alguns biógrafos do mártir apóiam esta versão, acrescentando que Barbie teria ajudado pessoalmente à tentativa.
Jean Moulin tornou-se símbolo de retidão cívica e de patriotismo numa época de muitos anti-heróis e de desonra de uma nação. Tornou-se uma lenda do século XX na França, sendo homenageado e referendado por todas as gerações que viram ou procederam ao seu martírio. Inicialmente foi enterrado no Cemitério Père Lachaise. Em 19 de dezembro de 1964, suas cinzas foram transferidas para um memorial no Panteão de Paris.

O Fim da França de Vichy

Com a chegada das forças Aliadas em junho de 1944, a França seria libertada da ocupação nazista alguns meses depois. A legitimidade da França de Vichy e do seu chefe de Estado, marechal Philippe Pétain, foi contestada pelo general Charles De Gaulle e pelas suas forças francesas livres, primeiro com base em Londres, e mais tarde, através de Argel, no Norte da África, onde foi declarado que o regime de Vichy não passou de um governo ilegal e de traidores colaboracionistas com as forças do Terceiro Reich, com fortes inclinações inspiradas na ideologia nazista.
Em junho de 1944, logo a seguir à invasão da Normandia, que levou a uma seqüência de ações que culminaria na libertação da França, o general De Gaulle proclamou o Governo Provisório da República Francesa (GPRF). Em agosto as forças dos Aliados chegaram a Paris, libertando finalmente, a capital francesa de quatro anos de ocupação e humilhação impostas pelas forças dos exércitos alemães. O GPRF instalou-se em Paris, em 31 de agosto, vindo a ser reconhecido pelos Aliados como governo legítimo da França, em 23 de outubro de 1944.
A libertação da França pelos Aliados, ocasionou a fuga dos funcionários e simpatizantes da França de Vichy, entre agosto e setembro de 1944, sendo o regime movido para Sigmaringen, na Alemanha, onde foi estabelecido um governo no exílio, liderado pelo marechal Pétain. O regime de Vichy no exílio durou até abril de 1945, quando os Aliados chegaram a Berlim, pondo fim ao governo nazista de Adolf Hitler.
Na reconstrução de uma República francesa livre, importantes lideranças, políticos e militares do regime de Vichy foram julgados e executados como traidores e colaboracionistas. As mulheres que se envolveram com os nazistas, sendo deles amantes, tiveram os cabelos rapsados em praça pública, para que fosse exposta a sua desonra. O marechal Philippe Pétain foi condenado à morte por alta traição, mas teve a pena comutada para prisão perpétua. A imagem do governante a apertar a mão de Adolf Hitler ficaria para sempre marcada na lembrança dos franceses, como um símbolo de vergonha daquele povo.
Durante o período da França de Vichy, de 1940 a 1944, o exercito francês seria reduzido a cem mil homens; os prisioneiros de guerra seriam mantidos em cativeiro. A população francesa mergulharia na miséria, com a fome a tomar grande forma, assolando a nação. Estima-se que a França forneceu 42% da ajuda externa à economia alemã durante a Segunda Guerra Mundial.

Postado em 09 de julho de 2009 por Jeocaz Lee-Meddi em seu excepcional blog - virtualiaomanifesto.blogspot.com - que recomendamos com louvor.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Ralph Waldo Emerson


" Rir muito e com freqüência; ganhar o respeito de pessoas inteligentes e o afeto das crianças; merecer a consideração de críticos honestos e suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza, encontrar o melhor nos outros; deixar o mundo um pouco melhor, seja por uma saudável criança, um canteiro de jardim ou uma redimida condição social; saber que ao menos uma vida respirou mais fácil porque você viveu. Isso é ter tido sucesso."

Ralph Waldo Emerson (25 de maio de 1803, Boston - 27 de abril de 1882, Concord, Massachusetts) escritor, filósofo e poeta estado-unidense.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Sara/Espanha - O lóbi pró-marroquino em acção




AUTOR: Luis PORTILLO PASQUAL DEL RIQUELME

Traduzido por Alexandre Leite

lóbi pró-marroquino em acção

A 14 de Novembro de 1976, primeiro aniversário dos Acordos Tripartidos de Madrid, Felipe González, na sua visita aos acampamentos de refugiados de Tindouf, dirigiu as seguintes palavras aos sarauís:

"...Quisemos estar aqui hoje, 14 de Novembro de 1976, para demonstrar com a nossa presença a nossa repulsa e a nossa reprovação pelo Acordo de Madrid de 1975...

"O povo sarauí vai vencer na sua luta. Vai vencer, não apenas porque tem razão, mas porque tem a vontade de lutar pela sua liberdade.

"Quero que saibam que a maior parte do povo espanhol, o mais nobre, o melhor do povo espanhol, é solidário com a vossa luta. Para nós, já não se trata do direito de autodeterminação, mas de vos acompanhar na vossa luta até à vitória final. (...)

"Como parte do povo espanhol, sentimos vergonha de que o Governo não tenha feito apenas uma má colonização, mas uma descolonização ainda pior, entregando-vos em mãos de governos reaccionários como os de Marrocos e Mauritânia. Mas deveis saber que o nosso povo também luta com esse Governo que deixou em mãos de Governos reaccionários o povo sarauí. (...)

"Sabemos que a vossa experiência é ter recebido muitas promessas nunca cumpridas; eu quero, por conseguinte, não prometer-vos algo, mas comprometer-me perante a História: o nosso Partido estará com vocês até à vitória final" ( http://www.rasd-tv.com/ - http://www.arso.org/guijarro2.htm ).

Lança-bombas no Conselho de Ministros

Trinta e dois anos depois de pronunciadas essas palavras, a 18 de Janeiro de 2008, com as Câmaras já dissolvidas e o Parlamento encerrado perante as eleições de 9 de Março, o Conselho de Ministros (CdM) de Espanha ofereceu ao Exército de Marrocos oito lança-bombas como prova da “irmandade” entre os Exércitos dos dois países. Assim, já não só se vendem armas –seguindo o exemplo dos EUA e França- a um país que tem um conflito bélico latente com o Sara Ocidental, que não cumpre sistematicamente a legalidade internacional e viola impunemente quaisquer direitos humanos, mas para além disso, são-lhe oferecidas, indo contra as mais elementares normas éticas e indo também contra as resoluções das Cortes espanholas. E tudo isto, com soturnidade e aleivosia, porque, estando o Parlamento encerrado, se evitava qualquer possível pergunta parlamentar ou petição de comparência “impertinente” no hemiciclo.



Parece que o CdM se “esqueceu” do facto de que, graças à pressão da sociedade civil (sensibilizada ao longo de dez anos de campanhas por organizações como a Amnistia Internacional, Fundação per la Pau, Greenpeace e Intermón Oxfam), o Congresso dos Deputados aprovou em finais de 2007 a Lei de Comércio de Armas, que proíbe expressamente a venda de armas a países em conflito, onde se violem os direitos humanos ou que estejam submetidos a embargos. (Paris bem vale uma missa; mas o actual regime marroquino bem merece um embargo). E como Espanha é uma potência na venda de armas, as “sobras”(?) são oferecidas a Marrocos. O CdM é um órgão colegial do Governo da Nação. A responsabilidade dos seus actos corresponde, de forma solidária, a todos os membros do Conselho. Reúne-se habitualmente às sextas-feiras. Uma parte minoritária do “grande público” fica a saber da notícia dos lança-bombas no sábado. Domingo é dia de descanso; a população distraída... Na segunda-feira, de novo ao trabalho. Assunto encerrado. Ponto final, parágrafo.

Carta de Zapatero a Mohamed VI

Quinze dias antes desse CdM, Moratinos [Ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha], numa viajem relâmpago de quatro horas, voa a Rabat levando uma carta do presidente Rodríguez Zapatero a Mohamed VI, com a qual se resolvem os “mal-entendidos” existentes (o embaixador marroquino havia sido chamado “a consultas” a Rabat em Novembro, depois da visita de Suas Majestades a Ceuta e Melilha). E o monarca alauita, já complacente e aplacado, devolve o seu embaixador a Madrid. O que diria essa carta milagrosa, previamente consertada por telefone? Top secret. Da mesma maneira que até 2026 não poderemos conhecer “os papéis do Sara”; terão de passar outros 50 anos para que os que ainda estejam vivos nessa altura possam saber o conteúdo dessa presidencial missiva?



VII Encontro Euro-Magrebino

Uma semana depois da oferta fraternal dos lança-bombas, Felipe González (FG), o mesmo que pronunciara as palavras transcritas no início deste artigo, reaparece. Já não é Governo mas Supragoverno, sábio global, designado para missões planetárias. A sua sombra paira por cima das decisões que o Governo adopta. Mas, prontamente, se reencarna em Rabat, no VII Encontro Euro-Magrebino. E ali, à sombra da PRISA (Sr. Cebrián), que preside à sessão inaugural, “ousa” sugerir ao seu anfitrião, Mohamed VI, que deveria reduzir os seus imensos poderes (algo timidamente já previsto ex ante, segundo dava a entender há meses dom Bernabé López García (BLG) num seu famoso artigo sobre a utopia e a dignidade dos sarauís, do qual demos devida conta a meio mundo.

Como reconhece e ressalta o próprio Ignacio Cembrero, nunca ninguém de tal categoria tinha ousado dizer tais coisas a Mohamed VI, ainda menos em público e na sua terra: teria sido imediatamente expulso do país; o embaixador teria sido chamada novamente “a consultas”; o sultão, o próprio Makhzen e inclusive as massas ter-se-iam sublevado... Mas, casualidades da vida, não se passou nada. Não lhe disseram “Vá-se embora, Sr. González!”, não. A mensagem do Palácio foi transmitida ao auditório e ao mundo inteiro, tal e como desejava o monarca alauita?, tal como tivesse sido combinado de antemão? A saber o quid pro quo correspondente!

Como é que o sultão não gosta da visita de Suas Majestades a Ceuta e Melilha e não se irrita com as “atrevidas” palavras de FG? Pouco ou, melhor, nada saberemos publicamente de quanto subjaz a este assunto e, por conseguinte, só sobra a crua especulação: Vossa Senhoria “orienta-me” as mudanças constitucionais que já temos preparadas e, em troca, “encapsula-me” o Sara (Ocidental). Feito! Entre muitas outras possíveis variantes, claro está: Não somos adivinhos e os senhores do lóbi não nos concedem capacidade para ser verdadeiramente informados. Por isso, “sou vosaltres qui heu fet del silenci paraules...”. Vocês são responsáveis pelo silêncio e a censura e, por conseguinte, co-responsáveis também das palavras que tomamos emprestadas de Lluis Llac para denunciar aos gritos o repugnante abandono das gentes do Sara Ocidental pelos governos do nosso país.

Questionamo-nos também sobre o que fazia PRISA presidindo à sessão inaugural do VII Encontro Euro-Magrebino, a que é que se dedica o Círculo Mediterrâneo, quem participa nele, que destino têm preparado para o Sara Ocidental e para o povo sarauí, visto que, segundo diziam os seus fundadores, nasceu para pedir liberdade, justiça e democracia. Idênticas perguntas fazemos a respeito do Instituto de Estudos Hispano-Lusos (Universidade Mohamed V de Rabat); e finalmente, no que respeita a quem organizou o mencionado Encontro dos lóbis. Porque, por acaso não pertencem os sarauís e a República Árabe Sarauí Democrática (RASD) ao Magreb? E estavam representados nesse fórum? O futuro do Magreb, não conta para eles, nem com eles? Não é um pouco suspeita a sua exclusão? Acreditam vocês que poderá haver paz, estabilidade e progresso no Magreb fazendo caso omisso dos legítimos direitos do povo sarauí?

A imprensa publica a notícia casualmente também no sábado. Título comprometido: Vejam vocês a valentia do nosso líder, que capacidade de incidir, de influenciar, de orientar na boa direcção, na direcção correcta. Vejam, plena democracia do regime político alauita (perguntem, para não ir mais longe, ao jornalista marroquino Ali Lmrbet); um regime que –ao contrário dos resultados alcançados pela RASD- mantém analfabeta mais de 60 por cento da sua população e que nas últimas eleições só votou de facto cerca de 18 por cento do eleitorado, sem considerar os subornos praticados nos Territórios Ocupados do Sara Ocidental. Todo um exemplo, com mensagem incluída, para os sarauís, esses independentistas malvados e insaciáveis que querem que lhes seja devolvido o que lhes roubaram! Que mais se pode esperar da magnanimidade do sultão?

E ali, na primeira fila do Encontro, logicamente, as autoridades dos tais lóbis, o lóbi marroquino e o lóbi pro-marroquino. O primeiro, encabeçado pelo intrigante e esquisito André Azoulay, o cérebro do plano para liquidar o referendo de autodeterminação do Sara Ocidental e resolver definitivamente a tão ansiada anexação ilegal de população e território sarauís. Nada mais a acrescentar da nossa parte sobre o senhor André Azoulay, fiel conselheiro do sultão e íntimo amigo do ex-presidente Jacques Chirac, nosso vizinho do Norte e do Sul, tendo em conta a sua grande sombra e as suas prolongadas estâncias (também posses e outras coisitas?) no país norte-africano (Tomás Bárbulo, “La historia prohibida del Sáhara Español”, Destino, Barcelona, 2002, pág. 20 e seguintes). O segundo, engrossado, para além dos que presidem e expõem, pelo lóbi do Ministério espanhol dos Negócios Estrangeiros e alguns outros ilustres compatriotas fiéis seguidores das geniais ideias do conselheiro Azoulay.

Não se ouviu dizer nada sobre Mohamed VI ter tido um sobressalto no seu trono, nem que os serviços secretos “acompanhassem” Felipe González e o seu séquito à escada do avião e os devolvessem à mãe pátria; nem se ouviu dizer que os encerrassem e queimassem vivos na Prisão Negra de El Aaiún, como parece ter acontecido a alguns díscolos sarauís. Também não sabemos se a querela criminal por presumível genocídio, admitida a trâmite em Espanha pela autoridade judicial competente, ia também no conteúdo da carta milagrosa de Zapatero a Mohamed VI.



“Encapsular” o Sara Ocidental

Vocês, leitores, dir-me-ão se aqui não há gato escondido ou, melhor ainda, encapsulado. Porque essa é a nova receita, a nova mensagem dos pensadores de Ferraz: “Há que ‘encapsular’ o conflito do Sara para continuar avançando noutros temas”. Toda uma pirueta mortal, tendo em conta as belas e nobres palavras –do próprio proponente- que encabeçam este artigo! Como cantava Raimon Pelegero naqueles tempos tão negros, “Qué s’ha fet d'aquells anys, d'aquelles mans tan pures?” Talvez o proponente tenha esquecido que isso de “encapsular” já outrora foi tentado e, pelos vistos, continua a ser tentado agora.

Já se tentou, porque o Exército “irmão” já encheu de cápsulas o Sara Ocidental; primeiro, cápsulas de napalm, cápsulas de fósforo branco e capsulazinhas de fragmentação massiva, lançadas (“são os lançadores de bombas, estúpido!”, um bom lema para a campanha eleitoral; os lançadores que agora o Governo espanhol -não os espanhóis oferece ao sultão como prova de irmandade) a partir de aviões de fabrico francês e norte-americano, que a coisa já vem de longe... E continua a tentar-se agora, por um lado, com o Muro de 2.700 Km. (o maior muro militar da nossa Era) que divide a terra e a população sarauís; construído, por certo, com dinheiros dos EUA, da Arábia Saudita e de outros amigos do eixo do bem. O dito Muro está flanqueado por outras quantas capsulazinhas, nada menos que cinco milhões de minas ou talvez o dobro, segundo informam fontes tão díspares como a revista National Geographic (Junho de 2007), James Baker III ou o embaixador dos Estados Unidos Frank Ruddy; e cujos planos, para as localizar e proceder à desminagem, Marrocos continua a negar à MINURSO (Missão das Nações Unidas para o Referendo no Sara Ocidental), que, para além disso, se dedica, nos seus momentos de ócio, a destruir o património histórico e cultural dos sarauís e de toda a Humanidade, como reconheceu publicamente o actual chefe da MINURSO, Sr. Julian Harston. E, por outro lado, continua-se a tentar agora com o novo plano marroquino de “autonomia” (2007) para um território ocupado que não pertence a Marrocos. De maneira que, mesmo puxando muito pela cabeça, não sabemos que novas cápsulas poderiam ser usadas hoje, deixando de lado “a bomba atómica” que Franco queria experimentar naquela colónia (antes província espanhola, hoje sarauís apátridas: Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?).

Entretanto, outra parte da “operação cápsula” era levada a cabo pelo Sr. Fassi-Fihri, o homólogo marroquino de Moratinos, que voava a Washington e conversava extensa e produtivamente com a senhora Condoleezza Rice sobre o assunto do s Ocidental. Podemos imaginar em que sentido, porque, como é público e notório, tanto Marrocos como Estados Unidos (referimo-nos sempre aos governos) são acérrimos cumpridores da legalidade internacional e dos Direitos Humanos, como também são grandes entusiastas das marchas verdes, das guerras preventivas e dos danos colaterais (esses que produzem as capsulazinhas e os lança-bombas: se acham que não, perguntem à família de José Couso, assassinado por uma cápsula estado-unidense no Iraque).

Assim, pouco a pouco, mesmo sendo em fins-de-semana e com o Parlamento encerrado (se bem que, certamente, tanto faz), as peças dispersas, os factos aparentemente desconexos, vão encaixando no tabuleiro desenhado pelo lóbi, aqui e ali, em Paris e em Washington, que em todos os lados se cozinham lóbis. Já se sabe que os partidos políticos, alguns em particular, representam fielmente a vontade dos cidadãos. Como diz um slogan eleitoral do PSOE, “Juntos vivemos, juntos decidimos”. Não, Sr. Zapatero; cada um vive na sua casa, segundo a sua classe e condição (isso não foi Marx que o descobriu); e no que respeita ao Sara Ocidental, também não somos os cidadãos a decidir, mas sim os lóbis. Ou não? Pois é mesmo assim, já chega de historinhas!

Mais “marchas verdes”

Mas há mais. A propósito da tão assinalada visita de Suas Majestades, os encarregados da propaganda alauita divulgam uma nova marcha verde; primeiro, a Ceuta e Melilha; e agora, a Tifariti (no Sara Ocidental libertado, onde a Frente Polisario celebrou o seu XII Congresso, obviamente silenciado pela “nossa” imprensa sob o lema “não apareces, logo não existes”, em plena coerência também com as palavras que encabeçam este artigo). Pois bem, a tal marcha ia ser em Janeiro. Mas, amigo, a Frente Polisario havia advertido que exerceria os seus direitos soberanos e, se preciso fosse, defender-se-ía com armas (apesar de não contar com lançadores de bombas oferecidos pelo Governo espanhol). E é aqui que poderiam ser causados “danos colaterais”, as notícias poderiam ser disparadas na imprensa nacional e internacional, e a população espanhola poderia despertar e chatear-se; e com isso, a questão do Sara Ocidental, agora sim cápsula, poderia saltar de novo ao palco, atingir-nos de frente e “incidir” nas eleições do 9 de Março..., que é o que realmente importa: E... se atrasarmos a dita marcha, se a deixarmos para depois das eleições, para depois da quarta ronda de negociações entre a Frente Polisario e Marrocos, para depois da Coluna dos 1.000...?

O actual regime marroquino utilizará sempre estes trunfos conforme a sua conveniência. Por isso, os integrantes do lóbi são, na realidade, reféns do sultão, que uma e outra vez tentará utilizá-los com um “a troco de...”, que depois não cumprirá, como fez com as múltiplas resoluções da ONU e da OUA e com o referendo de autodeterminação do povo sarauí.

Visita à União Africana

Não terminam aí as recentes manobras do nosso lóbi, com a sua ampla partilha de papéis. Assim, o nosso incombustível Moratinos, na sua última ronda pré-eleitoral, foi à sede da União Africana (UA) em Addis Abeba, oferecer aos seus Estados membros 30 milhões de euros como contribuição para retirar África do abismo.

E o que é que acontece na UA, com os seus 54 Estados membros e os seus 850 milhões de habitantes? Acontece que o seu primeiro presidente foi Thabo Mbeki, hoje sucessor de Nelson Mandela na presidência da República da África do Sul e, actualmente, também presidente do Parlamento Panafricano (UA). Em Agosto de 2004, Thabo Mbeki dirigiu uma dura carta –hoje cheia de actualidade- ao rei de Marrocos, expondo-lhe detalhadamente as razões pelas quais a África do Sul se via na ineludível obrigação de reconhecer a República Árabe Sarauí Democrática (RASD) como Estado soberano e membro de pleno direito da UA, com Embaixada permanente na África do Sul, tendo em conta o incumprimento da legalidade internacional por parte de Marrocos e da sua nula intenção de levar a cabo o tão reiteradamente diferido referendo de autodeterminação. A UA provém da Organização para a Unidade Africana (OUA), cujas resoluções sempre apoiaram a causa do povo sarauí, visto que uma das finalidades da Organização era, precisamente, erradicar o colonialismo de África. A OUA foi uma das principais promotoras do boicote e os protestos diplomáticos e políticas contra o regime do apartheid na África do Sul, e conseguiu acabar com o mesmo. Marrocos é o único país do Continente que se mantém fora da UA: retirou-se da Organização em 1985 por causa do reconhecimento e incorporação da RASD como Estado Membro (a RASD chegou a ter o reconhecimento de 82 países de vários continentes). O sultão de Marrocos saiu indignado –abandonou a UA- por tal reconhecimento, mas a RASD já era seu membro fundador. E há apenas uns dias, o IX Congresso da Organização Panafricana de Mulheres (Joanesburgo, África do Sul, Fevereiro de 2008) aprovou uma Declaração na que, uma vez mais, as mulheres africanas expressam o seu apoio aos esforços internacionais para resolver –não para “encapsular”- o conflito do Sara Ocidental e pedem o reconhecimento da sua soberania; o mesmo que exigem, também, as mulheres europeias e latino-americanas.

Salvo o que disse a imprensa, alto e bom som, da oferta dos milhões de euros, as pessoas comuns nunca saberão que mensagens do sultão poderão ter sido “trasladadas”, junto com o nosso infatigável Moratinos e os milhões, à UA ou a alguns dos seus Estados membros, conforme com as habituais práticas do Makhzén que Frank Ruddy nos revela no ”Sara Ocidental: A última colónia em África”: Euros em troca de congelar ou retirar reconhecimentos à RASD? Euros em troca de...? Saberemos o que se disse no fórum público, mas não o que se urdiu nos corredores, em gabinetes, mediante linguagem criptográfica, (como a mensagem enviada em 1975 pelo então secretário de Estado Henry Kissinger a Hassan II, pai de Mohamed VI, dando o seu visto de aprovação à marcha verde). E as palavras que encabeçam estas linhas, morreram também nessa viagem à UA, foram esquecidas, traídas, vendidas ou compradas?

É a diplomacia dos lóbis. Os peões, reféns do sultão, desempenham o seu papel ao som de Mohamed VI, Chirac, Sarkozy, o bom Bush, a nobre Condoleezza e alguns outros “preventivos”.




Cumprir os compromissos

E o povo sarauí, a legalidade internacional, a palavra dada, as nossas responsabilidades políticas? De responsabilidades éticas ou de moral pública, é melhor não falar: já o fez Vidal-Beneyto e parece que não serviu de muito. E tudo isto, não esquecer, à custa dos nossos impostos (dos quais nos devolverão 400 euros para que votemos neles; como noutros tempos, mas agora sem pão) e, certamente, para cumprir a vontade da maioria dos espanhóis; ou as palavras do Chefe de Estado em função às tropas espanholas, dias antes do Exército irmão marroquino nos expulsar da terra sarauí; e para honrar a legalidade internacional e as palavras de Felipe González em 1976, nos acampamentos de refugiados de Tindouf. Go figure!, como diria Frank Ruddy.

Pese a estas e outras muitas manobras do lóbi, o movimento internacional de solidariedade com o povo sarauí continuará lutando pela justa causa desse povo, cada vez com maior força, com mais razões e com total vontade e determinação. Até à vitória final, até que essa causa seja tratada como o que é: uma questão de Estado e de injustiça internacional, transversal a todos os partidos políticos e a toda a sociedade espanhola em geral, sem distinção de ideologias, classes sociais, religião, idade ou sexo; e até que o Estado espanhol assuma as suas responsabilidades e compromissos. Que não o esqueça Felipe ("Quero que saibam que a maior parte do povo espanhol, o mais nobre, o melhor do povo espanhol, é solidário com a vossa luta...”) nem os demais integrantes do lóbi (“Não nos falhes, ZP!”). Porque, como muito bem assinala Tomás Bárbulo, “a solidariedade da sociedade espanhola choca com a postura oficial” (op. cit. p. 34). “Os diplomatas de Rabat sabem bem que uma das causas fundamentais pelas quais fracassaram as suas manobras para anexar definitivamente o território é o apoio da opinião pública espanhola à Frente Polisario” (p. 29). De qualquer forma, continuem muito atentos às intenções do lóbi feroz, porque ainda dará muito que falar.

Um exemplo de propaganda bélica marroquina: a esquadrilha de aeronaves Mirage F1 de Dassault equipando as forças aéreas marroquinas, que serão dotadas de lança-bombas espanhóis MK-80



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Fonte: http://espacioseuropeos.com/?p=947

Artigo original publicado a 18 de Julho de 2008

domingo, 4 de julho de 2010

Morre Mahfoud Ali Beiba, dirigente histórico da Frente Polisario


Desde 1997 que Mahfoudh Ali Beiba presidia à delegação saharaui que participava nas negociações directas entre a Frente Polisario e Marrocos sob os auspícios das Nações Unidas.

Argel - Mahfoud Ali Beiba, fundador da Frente Popular de Libertação do Saguia El Hamra e Rio de Ouro (Frente Polisraio), dirigente histórico da luta de libertação no Sahara Ocidental e actualmente secretário-seral adjunto do movimento de libertação saharaui e presidente do Parlamento Nacional Saharaui, morreu sexta-feira (2), em sua casa, no acampamento 27 de Fevereiro, no sudoeste da Argélia, devido a ataque cardíaco.

A Presidência da República Saharaui Democrática declarou luto nacional por um período de sete dias. O funeral do dirigente saharaui realiza-se neste domingo, nos acampamentos de refugiados saharauis, segundo comunicado da Associação de Amizade Portugal-República Árabe Saharaui Democrática.

Nascido em 1953, no Saguia el Hamra (região norte do Sahara Ocidental), Mahfoudh Ali Beiba, era casado e pai de três filhas. Ocupou diversos cargos no Estado Saharaui no exílio, incluindo o de Primeiro-ministro de alguns governos e Presidente do Parlamento Nacional Saharaui.

Desde 1997 que Mahfoudh Ali Beiba presidia à delegação saharaui que participava nas negociações directas entre a Frente Polisario e Marrocos sob os auspícios das Nações Unidas. Era admirado pelo seu patriotismo, serenidade e devoção sincera à luta de libertação do seu povo pela independência nacional.

Fonte: Google News


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