QUEBRANDO OS MUROS DO CONFLITO
com DAVI WINDHOLZ
CONVITE
Outro dia recebi um convite por e-mail, enviado por um querido amigo, pioneiro na defesa do povo saharaui no Brasil, para
assistir a palestra de Davi Windholz, nesses exatos termos:
QUEBRANDO OS MUROS DO CONFLITO
Palestre Hotel Embaixador - Rua
Jerônimo Coelho, 354, 90010-240 Porto Alegre, Brazil “Quebrando os muros do
conflito” é um evento que buscará aproximar vozes que batalham diariamente por
uma solução justa para o conflito israelense-palestino. O conflito, acentuado
ano após ano por novas ondas de ataques, tem feito com que as populações civis
sofram diariamente as consequências da guerra. Nos últimos 20 anos,
especialmente, as suas esperanças para uma resolução parecem cada vez mais
distantes. Porém, em meio a isso, existem aqueles que ainda acreditam que
soluções são possíveis e lutam pelo fim das situações de ocupação e medo
constante. Davi Windholz, israelense brasileiro, é um militante que vive a
realidade desse conflito. Além de dirigir a ONG israelense “Alternative for
Peace”, que educa mais de 6 mil crianças palestinas e judias para o diálogo e a
coexistência, Windholz também está à frente de um novo projeto, “Dois Estados,
Uma Pátria”, que será apresentado no evento. Para agregar ao debate, contaremos
com a participação de Malek Rashid e Mohamad Jehad, palestinos brasileiros que
participam ativamente em movimentos de solidariedade ao povo palestino.
Contamos com a presença de todos para se juntarem ao diálogo! 19 de novembro.
19h Local: Hotel Embaixador Mediação: Raquel Andrade Weiss
A caminhada que iniciou com minha adesão à luta saharaui
pela independência, 2009, iniciando com a divulgação, passando pelo
reconhecimento do Brasil e, culminando com a certeza da conquista da autodeterminação
plena dos “filhos das nuvens”, tem me levado às profundezas da bestialidade
humana e, ao mesmo tempo, possibilitado experimentar a imensa generosidade e
solidariedade do ser humano.
Começo assim, pois, conhecer um pouco da obra deste
mensageiro da paz, participar atentamente do debate entabulado entre palestinos
e israelenses que, provocados, aceitaram o desafio de - sem abrir mão de sua
identidade - criarem espaços de convivência e buscarem pontos de convergência
mirando na Paz, dentro de um ambiente fraternal e respeitoso, me deixou
extremamente honrado.
Foi um momento único e inesquecível, que me fez acreditar
que é possível ultrapassar o limite do impossível e vencer a intolerância.
Os debates entre Malek Rashid, Mohamad Jehad e Davi
Windholz foram francos, despojados dos rancores e do ressentimento gerado pelo
estado permanente de guerra que permeia o tema, e foi mediado pela Dra. Raquel
Andrade Weiss que, com rara competência e comprometida com seu tempo, representou
o mundo acadêmico, mais acostumado a elaborações teóricas do que a abrasão do
mundo real.
Durante aproximadamente duas horas, Davi Windholz defende
um projeto - Dois Estados, Uma Pátria - e apresenta uma obra robusta, com
musculatura e força propulsora própria, capaz de reunir e monitorar mais de 6.000
crianças em espaços de convivência - palestinos e israelenses - desenvolver
programas de ensino que visam dominar os dois idiomas, hebraico/árabe, e
organizar pequenos grupos com representantes dos dois povos, em torno de 20
pessoas, com dois mediadores, dispostas à dialogar em busca de alternativas.
Com esta bandeira, Davi saiu pelo mundo reunindo
comunidades árabes e israelenses, dispostas a impregnar sua terra natal do
espírito conciliador e fraternal que conseguem estabelecer quando vivem em
outros países.
Com paciência e determinação, o mediador empreende esta
peregrinação consolidando bases de apoio, tanto junto aos emigrantes que vivem
em outros países, como em instituições de direitos humanos, escolas,
universidades, associações e formadores de opinião.
Neste contexto, o Brasil, que não consegue enxergar suas
qualidades e despreza seu potencial como nação anfitriã, empresta para a
empreitada uma de suas virtudes, ou seja: a capacidade de acolher povos hostis
na origem, e de proporcionar-lhes uma convivência respeitosa, pacífica e
fraterna em terras brasileiras.
No encontro, repleto de jovens, os participantes, Malek,
Mohandas e Davi, sob a mediação da Dra. Raquel, emprestaram seu brilho pessoal
ao evento, representaram dignamente seus povos, honraram a condição de seres
humanos, enriqueceram o debate, superaram as dificuldades - tempestade/falta de
luz - e renderam homenagens à protagonista da noite, a PAZ.
MEDIADOR DO PROCESSO DE PAZ
Davi Windholz é um humanista pró ativo que vivencia o
conflito instalado e possui profundo conhecimento da causa posta. Com
sapiência, decide investir no ser humano escondido até agora atrás de rótulos -
palestino/israelense, judeu/muçulmano, rico/pobre, vítima/agressor - respeita a
diversidade, aposta na juventude e não despreza o tempo, reunindo disposição
física e arcabouço intelectual invejável para enfrentar a gigantesca missão.
Possui ainda características pessoais encontradas somente nos
grandes líderes, ou seja: foco; capacidade de reduzir atritos e administrar
conflitos; insuperável determinação para realizar objetivos.
Também defendo o método empregado, ou seja, a mediação como
a melhor forma de resolução dos conflitos, e, no exercício diário da minha profissão,
aprendi que seis requisitos obrigatoriamente são necessários para o êxito da
iniciativa:
1) a boa fé;
2) o resgate do momento anterior ao conflito e/ou exemplos
de convivência pacífica;
3) os pontos de
convergência;
4) os benefícios da
solução compartilhada;
5) não há
perdedores;
6) um objetivo
comum, somente vencedores alcançam a paz.
Não há ufanismo na proposta elaborada e construída por
Davi. Há trabalho, muito trabalho. Inteligente, ele não desconhece dos fatores internos
e externos - geopolítica, recursos naturais, comércio de armas, fundamentalismo
religioso, ideologias, grupos oportunistas - que impactam e tornam perene o
conflito, mas, opta pela blindagem da iniciativa, não permitindo que causas
sobre as quais não tem controle/ingerência, fulminem ou afetem o ânimo da
proposta que constrói com trabalho, honestidade, inteligência e determinação.
Assim, o exímio mediador maneja com maestria e sabedoria
todos os fundamentos da mediação, pois sabe que todas as ameaças sucumbem
diante da vontade popular quando comprometida com as reformas, deixando a
certeza de que estamos diante de uma excepcional liderança, capaz de levar a
cabo a imensa tarefa.
A chamada para o evento – quebrando os muros do conflito -
sugere a quebra dos muros com o escopo de conquistar a paz.
Oportuna esta abordagem, no momento em que os refugiados
são barrados em países europeus por muros (cercas) construídas às pressas para
segregar povos desesperados. Recordamos também, que a queda do muro de Berlim
teria representado em determinado momento histórico, a vitória da liberdade e
da democracia sobre regimes totalitários. Ledo engano!
Sabemos ainda que temos os muros invisíveis, representados pela xenofobia, pela
intolerância e pela desigualdade social, entre outras causas, e as barreiras físicas (muros),
destinadas a impedir o direito de ir e vir dos seres humanos, e ocultar
práticas genocidas.
Quando falamos em muros que segregam seres humanos, não há hierarquia, todos são abomináveis. Referi na abertura desta
manifestação que assumi a luta em prol da independência do povo saharaui, última
colônia da África, cujo território, localizado no noroeste do continente
africano, com 282.000 Km², foi invadido ilegalmente pelo Marrocos em 1975, com o
apoio material e logístico das tropas norte- americanas e francesas.
Segregando meus irmão saharauis em seu próprio território - não há disputa territorial pois a Corte Internacional de Justiça, em 16/10/1975, decidiu que o território é pátria saharaui - temos o muro da vergonha, um infame muro de 2.720 Km de extensão, patrulhado 24 horas por
150.000 soldados marroquinos fortemente armados, equipados com artilharia
pesada, guarnecidos por tanques e aviões, com milhões de minas terrestres “ante
personas” plantadas em toda sua extensão - segundo organismos internacionais, a
maior concentração de minas deste tipo no planeta - enquanto o restante do povo vive na zona
liberada, e no campo de refugiados de Tindouf, na Argélia, onde sobrevive de
ajuda humanitária.
Na área ocupada, ¾ do território saharaui, cercada pelo
infame muro, a sanguinária polícia marroquina, treinada pelo esquadrão da morte
francês, pratica impunemente todo o tipo de violação de direitos humanos:
sequestros, prisões arbitrárias, espancamentos, desaparecimento forçado,
tortura e assassinatos.
NÃO VIOLÊNCIA E
DESOBEDIÊNCIA CIVIL
Conhecendo o trabalho de Davi, impossível não recordar de
campanhas mundiais empreendidas por lideranças que perseguiram e conquistaram a
Paz, destacando três grandes exemplos de lutas bem sucedidas que utilizaram o
princípio da não violência como forma de reação aos agressores, e ações
apoiadas na desobediência civil para desestabilizar e derrubar o sistema de
dominação: Mohandas Gandhi, Martin Luther King JR e Nelson Mandela.
Embora pudesse recorrer a qualquer um dos exemplos citados,
abordarei o tema a partir do líder sul africano.
Recentemente, Nelson Mandela, o notável estadista sul
africano, serenamente subiu aos céus com o símbolo da paz esculpido em sua
face. Mandela venceu todas as barreiras impostas pela intolerância, acabou com
o apartheid, curvou o agressor sem humilhá-lo, compartilhou os
direitos arduamente conquistados e conduziu seu povo para uma convivência
harmoniosa, respeitosa e pacífica.
Da cadeia, acorrentado aos grilhões, manejou com sabedoria
as mesmas armas de Gandhi e Martin, a desobediência civil e o princípio da não
violência.
"Ninguém nasce odiando outra pessoa
pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender,
e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." Nelson
Mandela
Desafio comum aos extraordinários líderes foram os
enfrentamentos em tempo integral, com refinada maestria e determinação, das
pequenas grandes violações suportadas por seus povos, como: não poder
frequentar as escolas dos brancos, as lancherias, os cinemas, os ônibus, os
clubes, os sanitários... não transitar na mesma calçada, não olhar nos seus
olhos, não tocá-los...vulnerabilidade social, empregabilidade, desigualdade,
insegurança jurídica...ausência de saneamento básico, de serviços médicos, de
moradia, de acesso à educação...condições insalubres e carga de trabalho
insuportáveis.
Mais, não tinham direito ao voto ou, se tinham, eram
impedidos de votar e assistiam perplexos e impotentes a violação das urnas e a
manipulação dos resultados, perenizando o repertório de violações a que eram
submetidos pelo agressor contumaz.
Comungaram
também da luta contra o radicalismo dentro da própria trincheira que ansiava
pela retaliação armada. A guerra vencida é o resultado de
batalhas travadas no seio dos insurgentes em busca da unificação de objetivos
e, principalmente, quanto ao método empregado.
“Dividir para vencer” é o lema consagrado pelo inimigo.
Superar esta máxima e fazer prevalecer o princípio da não violência, com ações
baseadas na desobediência civil foi, talvez, o maior desafio enfrentado pelos
excepcionais comandantes da paz.
Mas, em que se assemelham estes gigantes dotados de
ilimitada capacidade de persuasão, de intransponível repúdio ao recurso das
armas, de inesgotável espírito de conciliação e invencível determinação para a
realização dos seus sonhos?
Levantamos algumas pistas para análise: em comum a fé num
ente superior; incondicional adesão ao princípio da não violência como reação;
desobediência civil para a ação; integridade, honestidade; caráter; altruísmo;
destemor; respeito à diversidade; verdade; justiça; felicidade coletiva; a paz.
Seriam deuses?
Sabiam que não, seus irmãos especulavam, e os desafetos, na
dúvida, tramavam para segregar os homens e devolver os deuses para o céu.
Discurso e conduta experimentados no limite do impossível à
serviço da Paz.
O legado inspirado na obra de Henry David Thoreau (A
Desobediência Civil), de Leon Tolstói (O Reino de Deus está em
Vós), na Bíblia (Sermão da Montanha), e no Livro
Sagrado dos Hindus (Bhagavad-Gita), se mostra irretocável, e encontrou três executores à
altura do desafio, com força propulsora própria, fé inabalável, destemidos e de
caráter inquebrantável, que não hesitaram em perder a liberdade e enfrentar a
morte em defesa da vida.
Nossos ícones
foram ainda mais longe na luta pela paz. Princípio da não violência e ações
articuladas de desobediência civil é meio, e não fim.
Meios que
visam acabar com a agressão e não com os agressores, morrer, mas não matar pela
causa, compartilhar ganhos sem humilhar os adversários, visando a sincera e
harmoniosa reconciliação nacional.
O objetivo
último é inegociável e absoluto: o respeito à vida, a convivência fraterna,
respeitosa e pacífica entre os seres humanos, num ambiente de liberdade, igualdade
e paz.
Diante do exposto, a alternativa apresentada por Davi não é
mais uma ideia, e consegue a proeza de ultrapassar as barreiras físicas e
invisíveis porque assentada sobre uma obra concreta – ONG Alternative for Peace,
grupos de discussão composto de israelenses e palestinos, rede de apoio
internacional - além de colocar na mesa um projeto não acabado, pelo contrário,
para ser discutido, aperfeiçoado, trabalhado a quatro mãos. Davi não despreza
os obstáculos, mas também não lhes empresta uma importância capaz de impedir a
caminhada em direção a PAZ.
É neste ponto que a proposta “Alternative for Peace” ganha
corpo e relevância, pois exsurge de dentro para fora, do olho do furacão,
construída por seres humanos diretamente afetados pelo conflito, que não
suportam mais serem manipulados no jogo político internacional que perpetua a
barbárie em nome dos negócios, e serem chamados somente para pagarem o alto preço
cobrado pelo estado permanente de beligerância com ideais aprisionados, corpos
mutilados e vidas interrompidas.
"Ninguém nasce odiando outra pessoa
pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião.
Para odiar, as pessoas precisam aprender,
e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar." Nelson
Mandela
Por derradeiro, estaremos sempre à disposição para
contribuir com iniciativas que
respeitem a vida, a liberdade, a igualdade e a autodeterminação dos povos.
Por isso, recomendamos a você leitor que
conheça e apoie o trabalho desenvolvido pela ONG Alternative for Peace,
liderada por Davi Windholz, um ser humano à altura do desafio, por entendermos
que nos Campos de Davi, semeados com 6.000
sementes do amor, e cultivado por mãos palestinas e israelenses, só poderá crescer
respeito e solidariedade, e o resultado da colheita será a tão almejada PAZ.
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