26 dias em greve de fome – 4 meses e um dia após a morte do seu filho, Takbar Haddi prossegue a sua luta para que o governo marroquino que lhe devolva os restos mortais do jovem de 21 anos, para ser feita a autópsia e seja enterrado com dignidade e as responsabilidades da sua morte sejam apuradas. O protesto ocorre frente ao Consulado de Marrocos em Las Palmas de Gran Canária. Por Né Eme.
A fragilidade da sua condição física, devido à greve de fome já bastante prolongada, é a cada dia mais notória. Move-se apenas em cadeira de rodas, passa a maior parte do tempo sentada ou deitada. A sua voz é ténue. Ainda assim, demonstra uma força inabalável, e continua a receber todos os que dela se aproximam.
Assim mesmo a ajuda por parte do Governo Espanhol, a esta cidadã Saharaui, a residir em Espanha, consegue ser ainda mais ténue, senão mesmo: inexistente!
Mas a sua luta, é rodeada de carinho, muita solidariedade e atitude.
A luta de Takbar Haddi é rodeada de muita solidariedade
Depois de centenas de mensagens de apoio e visitas solidárias, Teresa Rodrigues e Noemí Santana do Podemos, Aminetu Haidar, muitos outros ainda se juntaram num ato de apoio e coragem a esta Mãe lutadora em busca de justiça.
Como já havíamos noticiado no Esquerda.net, na passada sexta-feira, vários apoiantes da Sra. Takbar entraram nas instalações do Consulado Marroquino, pedindo uma audiência ao Cônsul, audiência essa que lhes foi negada pela voz do próprio.
Hoje, através de Tavo De Armad, soube que “Iván Prado (de Pallasos en Rebeldía), Pepe Viyuela y Amparo Sánchez vieram expressamente para ver Takbar e que pela mão de Iván Prado seriam entregues ao cônsul marroquino para além de uma carta, um pouco de areia como símbolo da areia do cemitério onde a família de Takbar enterra os seus mortos há cerca de 500 anos.”
Depois, e num ato simbólico ao qual chamaram: “De mãos dadas rodeamos o Consulado para 'asfixiar' a injustiça Marroquina”, dezenas de apoiantes, tranquila e pacificamente, formaram uma cadeia humana à volta do Consulado Marroquino em Las Palmas de Gran Canaria.
Na minha conversa com Tavo De Armad, fiquei ainda a saber que “ontem chegou um alto cargo da polícia de Madrid, percebemos pelo cumprimento oficial com que o saudaram. Eu estava ali, no local a que chamamos “Acampamento Takbar” e quando esse polícia se foi embora, a imprensa publicou que o Ministério do Exterior de Espanha teria que garantir proteção ao consulado Marroquino”
Assim chegamos ao dia de hoje, 9 de Junho, em que várias das pessoas que estiveram dentro do Consulado, juntamente com os artistas, foram “visitadas” pela polícia, nas suas residências, e lhes foram entregues convocatórias, “convidando-os” a comparecerem hoje mesmo na esquadra da Polícia (sem hora marcada) a fim de serem interrogados.
Curiosamente, foram 5 saharauis os notificados. O meu amigo Tavo De Armad foi um desses “convidados”.
Durante a tarde, dois polícias à paisana aproximaram-se do grupo que rodeava o “Acampamento Takbar” e “convidaram” mais 4 pessoas a ir à esquadra. Desta vez com um enorme aparato policial, carros e motas asseguraram o “cortejo” ate à esquadra.
Lá, foram assistidos por advogados e todos disseram nada ter a declarar!
Ficou marcada uma conferencia de Imprensa, para amanha às 11h.
Que conclusões tirar, depois destes relatos?
"Justiça para Haidala"
Após 40 anos de traição de Espanha e de invasão ilegal por parte de Marrocos, urge sentir a mão da justiça.
Neste caso especifico, continuamos a assistir a um grande compromisso de Espanha na defesa de Marrocos, pondo em causa uma vez mais a dignidade com que deveria de uma vez por todas brindar os saharauis.
Como potência ainda colonizadora do Sahara, teria indubitavelmente que estar ao lado da Sra. Takbar e das suas exigências. Aqui teria uma excelente oportunidade de começar a pagar a grande dívida que tem para com este Povo.
Afinal, qual mãe não quereria que perante esta trágica e precoce morte do seu filho, se:
Abrisse uma investigação independente sobre o crime, investigasse as causas da negligencia médica, percebesse o tipo de torturas a que foi sujeito aquando da sua detenção e consequente permanência na esquadra, autopsia do cadáver por um comité medico especialista e imparcial, detenção dos 5 autores, colonos Marroquinos, detenção dos responsáveis da policia em El Aaiun e recuperar o cadáver do filho para enterrar condignamente!
Contudo o “modus operandi” marroquino continua a ser igual dentro dos territórios ocupados e fora deles. Ou não fosse o governo espanhol conivente com todos estes crimes ajudando a manter o “status quo”.
Mas os saharauis não podem esperar mais, e neste caso concreto, à Sra.Takbar vai-se escapando a vida.
Hoje, li uma nota de que o Sr. Mohamed Abdelaziz - Presidente da Republica Árabe Saharaui Democrática tinha escrito ao Secretário-Geral das Nações Unidas, Sr. Ban Ki Moon, a pedir a sua rápida intervenção, o que é louvável. Mas… seria necessária tal mensagem? Que “tipo” de Democracia é esta em que vivemos, que dá e tira com a mesma mão? Por quanto tempo mais vão os saharauis ter de lutar para não serem esquecidos?
Fonte: http://www.esquerda.net/artigo/takbar-haddi-o-espelho-de-um-povo-que-resiste-para-nao-cair-no-esquecimento/37319
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