Por Amanda Cotrim
Especial para Caros Amigos

Despertar Corações
Um espetáculo de clima intimista, no qual o público é convidado a sentar-se no palco, mas que grita e consegue despertar corações desavisados: na era da globalização, cujo discurso central é a vida sem fronteira, existe um muro que sufoca e abafa uma realidade pouco vista nos noticiários. Erika conta que o Muro da Vergonha é vigiado por 150 mil soldados marroquinos e o percurso ainda apresenta uma infinidade de minas terrestres que, vez ou outra, provocam mortes entre os saharauis. O acampamento argelino fica próximo a Tindouf; ele existe desde 1975, quando houve a chamada “Marcha Verde” e a invasão do Reino Marroquino em seu antigo território, o Sahara Ocidental, que após a tomada desse país construiu um muro para que os saharauis não retornassem às suas terras.
A experiência inicial dessa realidade foi vivida pela atriz em agosto de 2007, quando ela participou do “II Encontro Ítalo-Brasileiro do Via Rosse Teatro, em Padova/It”. Erika tinha a intenção de ir à Itália falar sobre os exilados da ditadura militar brasileira. Mas, no meio do caminho, como disse certa vez o poeta Drummond, havia uma pedra, que ao tropeçar nela, a atriz foi além: “Nesse momento interrompi o trabalho que estava fazendo e reiniciei com essa nova pesquisa, com o intuito de fazer um levantamento sobre os exilados contemporâneos no mundo, com foco no povo Saharaui. E fui me envolvendo cada vez mais com o tema”, contou. No norte da Itália, em Reggio Emilia, as crianças exiladas do norte da África são levadas para que possam ter acesso a um check-up médico; essa ação é organizada pela Associazione Jaima Sahrawi. Lá, Erika pode, já em 2011, trabalhar como voluntária dando aulas de teatro e orientando as mesmas, durante todo o percurso na Itália, levando-as para conhecer o mar e o campo. Ali, o espetáculo “Exilius” já apresentava as primeiras formas, e ele, inclusive, foi apresentado aos saharauis, como contou a atriz.

Trajeto social
Erika nunca esteve no campo de refugiados, mas esteve entre eles de muitas outras formas, assumindo e seguindo com essas crianças, durante dois meses na Itália, um trajeto sanitário, educacional e artístico. Ela gostaria de ter viajado ao campo em dezembro de 2011, porém, no mês de outubro, houve um sequestro de três ativistas humanitários num acampamento de refugiados saharauis na Argélia Rabun (uma italiana – Rossela Urru e dois espanhóis da Associação Amigos del Pueblo Saharaui). Segundo a atriz, esse fato dramático abriu uma nova fase do conflito no Sahara Ocidental, a RASD e a Frente Polisario imediatamente após o rapto começaram a trabalhar com as
autoridades responsáveis pela libertação de prisioneiros. No entando, Erika ainda não teve respostas concretas sobre o que houve e o resultado disso. “Dessa forma, a associação solicitou que nenhum cooperante viajasse enquanto o conflito não fosse resolvido”, alertou. Há uma nova possibilidade de viagem para o mês de abril de 2012.

Em cena uma atriz, vários personagens, um carrinho de mão, areia e cigarros. Antes do espectador se encontrar com a artista, ele tem a chance de transitar por uma exposição fotográfica, do deserto do Saara, feita pelo fotógrafo italiano Paolo Cattaneo, e registros da pesquisa de campo realizada pela atriz no período em que trabalhou com os saharauis na Itália, além de vídeos e ambientação sonora, elementos que ajudam a contar a história dos exilados saharauis.
Realidades
Aproximar realidades é o objetivo da instalação cênica “Exilius”, que contou com a direção sensível da atriz e pesquisadora do grupo Matula Teatro, Alice Possani. Já a dramaturgia foi construída a partir das provocações do diretor argentino Norberto Presta. "Exilius" é, como a própria atriz define, uma metáfora sobre a resistência, a identidade em movimento e as contradições de uma globalização que marginaliza. Foi uma forma encontrada por ela para que olhos fossem abertos: “Falou-se tanto do muro de Berlim e poucos conhecem o Muro da Vergonha. A única idéia é fazer-se conhecer, essa é a função do espetáculo e da instalação cênica”, diz ela.
Serviço
O quê: Instalação Cênica "Exilius"
Aonde: Fábrica das Artes (Rua Cícero Jones, 146, em Americana)
Quando: domingo, 12, às 20h
Gênero: Drama
Faixa Etária: 12 anos
Realização: Grupo Matula Teatro, de Campinas
Direção: Alice Possani
Informações: 19 3014-1990
Ingressos: 'tíquete cultura' (paga o quanto puder)
Fonte: carosamigos.terra.com.br
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